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      Início Opinião O ano de 2022 em revista

      O ano de 2022 em revista

      2022 acentuou algumas das tendências que vinham de anos anteriores e acresceu preocupações de instabilidade política e social em virtude de uma ordem global cuja lógica e regras não tem resistido aos efeitos do tempo. Destaco alguns dos eventos principais do ano findo.

       

      1. Situação na Ucrânia

      O ano reforçou a incapacidade de Vladimir Putin ganhar a guerra contra um país soberano que havia invadido na ambição de restabelecer um império neo-soviético formado pela Rússia anexando países vizinhos, que são parte da União Europeia. Como um Golias contra um pequeno David, Putin defrontou-se com a valentia, o denodo e capacidade de sacrifício de um povo em armas, determinado a continuar senhor do seu destino. Todo o mundo se uniu no apoio politico, militar e financeiro a Zelinskyy e aos seus companheiros. Não se vislumbram possibilidades de paz a curto prazo.

       

      1. Reino Unido

      Boris Johnson demitiu-se da liderança do governo britânico e do partido conservador lançando o país numa das maiores crises politicas das últimas décadas. A subida de inflação, a maior carestia de vida, o colapso do sistema nacional de saúde acentuaram a inabilidade dos conservadores para responder aos desafios do país. Seguiram-se líderes transitórios como Liz Truss e Rishi Sunak, que não têm revelado traquejo para levar os conservadores à vitória nas próximas eleições legislativas. Com grande probabilidade o poder passará para o Labour.

       

      1. Irão

      A repressão sobre os jovens adversários do regime islamita dos ayatollahs agravou-se com a detenção de uma jovem curda-iraniana Masha Amini que se recusou a usar o véu islâmico na rua e foi detida pela polícia religiosa do país.  Masha morreria na prisão em circunstâncias não explicadas. A juventude iraniana ergueu-se em revolta em manifestações pelo país exigindo a queda do regime. O que provocou uma nova onda de repressão contra estudantes e intelectuais. Ali Khamenei, o octogenário líder do país acusava em estridência os Estados Unidos de organizarem a contestação estudantil. A queda do regime é uma questão de tempo.

       

      1. A esquerda regressa ao poder

      O ano de 2022 sublinhou a natureza cíclica da política na América Latina. Nas eleições que tiveram lugar em 2021 e 2022 o poder transitou de líderes pragmáticos e pró-mercado para políticos socialistas e radicais. Andrés Obrador no México, Pedro Castillo no Peru, Gustavo Petro na Colômbia e Lula da Silva são exemplos de políticos que reeditam políticas dos anos 1970 de estatização da economia, subvenção generalizada a certos estratos da população e limitação de investimentos externos. Políticas que no passado levaram a mais pobreza, corrupção, nepotismo e abuso do poder. De que são exemplo o peronismo, o castrismo, o chavismo e o PT brasileiro.

       

      1. Xi Jinping líder incontestado

      Xi consolidou o seu poder pessoal ao longo do seu segundo mandato como secretário-geral do partido e presidente do país. Promoveu uma alteração constitucional que lhe permite desempenhar um terceiro mandato, sem termo à vista. Sem oposição interna visível, Xi libertou-se no XX Congresso do fim do ano, de quadros associados a outras sensibilidades na constituição do novo Politburo de 7 membros. A reacção dos mercados e dos observadores internacionais tem sido negativa pela falta de carisma dos que irão ser chamados, em Março, a funções no governo e lugares de poder na China.

       

      1. COVID 19

      O controlo das novas variantes da Covid 19, designadamente da sublinhagem BQ.1 da Ómicron, constituiu um desafio fundamental ao longo de 2022 para as autoridades sanitárias mundiais. As novas variantes (e a sua expansão) mostram as limitações das vacinas desenvolvidas nos últimos dois anos bem como a possibilidade da pandemia regressar em novas vagas com o levantamento de limitações à circulação de pessoas na China e noutros países asiáticos. Países onde vigoraram medidas de confinamento generalizado.

       

      1. Mundial de futebol

      A realização da competição maior do desporto-rei, num país do Médio Oriente, mobilizou paixões pelo choque com costumes e regras civilizacionais diferentes das do primeiro e segundo mundo. Os interesses dos emires do petróleo sobrepuseram-se aos do desporto em geral, lançando suspeitas de conivência e permeabilidade da FIFA ao tráfico de influências e a pressões de natureza  financeira e comercial.

       

      Arnaldo Gonçalves
      Jurista e professor de Ciência Política e Relações Internacionais