Edição do dia

Segunda-feira, 11 de Dezembro, 2023
Cidade do Santo Nome de Deus de Macau
nuvens dispersas
23.1 ° C
23.9 °
22.9 °
88 %
2.1kmh
40 %
Seg
25 °
Ter
26 °
Qua
22 °
Qui
23 °
Sex
24 °

Suplementos

PUB
PUB
Mais
    More
      Início Entrevista "Estamos todos contentes com a prenda que tivemos que foi o levantamento...
      Luís Herédia

      “Estamos todos contentes com a prenda que tivemos que foi o levantamento de restrições”

      O levantamento generalizado das restrições pandémicas em Macau foi uma vitamina para os hotéis da região. Quem o diz é Luís Herédia, presidente da Associação dos Hotéis de Macau. Em entrevista ao PONTO FINAL, o responsável diz que, agora com a reabertura, é preciso que os hotéis se preparem com recursos humanos que permitam satisfazer a procura dos turistas. Para já, a mão-de-obra ainda é escassa e a associação tem estado em diálogo com o Governo. "A resolução da questão da falta de recursos humanos não pode ser muito demorada, senão perdemos os padrões de qualidade", avisou Luís Herédia, assinalando que é importante tentar fazer com que os turistas fiquem mais tempo no território.

      Fotografia de Gonçalo Lobo Pinheiro

      FOTOGRAFIA: GONÇALO LOBO PINHEIRO

      Para Luís Herédia, a decisão de reabrir a cidade aos turistas foi “uma óptima decisão”, apesar de repentina. “Estamos todos contentes com a prenda que tivemos que foi o levantamento de restrições”, afirmou o presidente da Associação dos Hotéis de Macau em entrevista ao PONTO FINAL. Depois de três anos quase sem hóspedes, os hotéis vão precisar de outros três anos, pelo menos, para recuperaram o que perderam durante a pandemia, considera Luís Herédia. Agora, com a reabertura, é preciso os hotéis reforçarem-se com mão-de-obra que possa satisfazer a procura. “A resolução da questão da falta de recursos humanos não pode ser muito demorada, senão perdemos os padrões de qualidade e estamos a competir com outras cidades que têm menos problemas desses”, avisa o representante do sector hoteleiro. Sobre a escalada de preços dos quartos de hotel que se tem verificado nas últimas semanas, Luís Herédia diz que “é a lei da procura e da oferta”. Para o futuro, o responsável defende que Macau deve apostar nas infraestruturas de forma a fazer com que os visitantes fiquem mais tempo no território, mesmo que o número de turistas não chegue aos 39 milhões por ano, como aconteceu em 2019. “Macau tem de tentar que [os turistas] não sejam tantos, mas pernoitem mais”, afirma.

       

      Foram três anos em que os hotéis da região sentiram muitas dificuldades devido às restrições epidémicas que trouxeram poucos turistas a Macau. Haverá algum impacto a longo prazo para o sector?

      Foram três anos difíceis, mas, pelo menos na nossa associação, não houve hotéis que fecharam. Não houve nenhuma interrupção total de qualquer um dos hotéis. Houve sim uma necessidade de redução de pessoal. Quando, repentinamente, passámos a esta abertura e entraram na Semana Dourada 450 mil turistas em sete dias, estávamos de alguma forma preparados. Há quartos que não conseguiram ser vendidos. Isto foi uma vitamina, um ‘boost’, é muito bem-vindo. Vimos uma oportunidade à nossa frente que não estava a ser aproveitada a 100%. É uma questão de tempo.

       

      Não esperavam então esta mudança de política e o regresso em massa dos visitantes?

      Foi repentino, foi uma decisão da parte da Saúde e do Governo. Não era preciso estar na área da saúde para saber que o vírus não iria desaparecer. Mas sabia-se que este é um vírus que se propaga rápido, mas não é tão preocupante. Não quero discutir as questões políticas, mas o que vemos é que, de facto, [o fim das restrições] veio repentinamente, mas vemos isso como uma óptima decisão.

       

      Há alguma estimativa de quando é que os hotéis poderão recuperar aquilo que perderam ao longo dos últimos três anos?

      Vai demorar. Hotéis de maior escala terão tido perdas maiores e os mais pequenos talvez se tenham conseguido equilibrar com o turismo interno e com as entradas de turistas da China Continental. Há a previsão de 40 mil turistas por dia, o que dará cerca de 14 milhões por ano, ou seja, 37% do que foi 2019. Estamos aquém, mas se for com as diárias com um preço já bastante bom, haverá retorno. Serão precisos pelo menos três ou quatro anos para passarmos a estar num equilíbrio.

       

      Falou-se de taxas de ocupação superiores a 80% no período do Ano Novo Chinês. Era o que estavam à espera?

      Sim. Houve hotéis que se calhar conseguiram vender os quartos todos e outros nem tanto. Houve uma taxa de 85,7%. O que acontece é que muitas vezes os hotéis têm de gerir os recursos que têm. Ou seja, um hotel pode conseguir vender 100% dos quartos, mas não os consegue limpar no dia a seguir, por isso não consegue vender os 100% no dia a seguir. O que acontece muito em Macau é que muitas vezes as pessoas passam nos hotéis apenas uma noite, depois temos de limpar o quarto todo para o próximo. Havendo muitas mudanças de novos clientes, o hotel não consegue vender todos os quartos.

       

      Houve possibilidade de os hotéis se prepararem para esta abertura repentina?

      Os hotéis nunca deixaram de estar em exercício, pelo menos os da nossa associação. Houve um esforço adicional, sem dúvida, para que se chegasse a estas taxas [de ocupação]. Houve um esforço muito grande para aproveitar o Ano Novo Chinês. Conseguimos esticar ao máximo os recursos existentes para conseguir aproveitar esta oportunidade.

       

      Quantos trabalhadores é que os hotéis perderam ao longo dos últimos três anos?

      Cerca de 30% na área de alimentação e bebidas. A ocupação nos restaurantes também não foi a mesma. Foram praticados todos os passos necessários para manter os padrões? Tentou-se, e penso que sim. Não houve grandes queixas por parte dos turistas. Mas sentimos sempre que podemos fazer melhor. Mantivemos os padrões dentro de uma qualidade aceitável, mas sentimos que precisamos de mais gente para manter a qualidade.

       

      E agora, com a reabertura, quantos trabalhadores é que os hotéis vão ter de contratar?

      Se a estimativa é de 40 mil visitantes diários, em que 50% pernoitam, acho que não precisamos de ir exactamente aos mesmos números de 2019, mas precisamos urgentemente de pelo menos metade dos trabalhadores que saíram. Ainda falta abrir outros mercados, ainda faltam pontes aéreas com o Japão, Coreia e outros países. Ainda estamos só com dois mercados principais, que é a China Continental e o de Hong Kong.

       

      Em relação a Hong Kong, o Governo de Macau lançou uma série de medidas para atrair visitantes da região vizinha e para fazer com que pernoitem. Têm surtido efeito?

      Eu acho que se nota é a vontade de as pessoas de Hong Kong saírem. Houve cerca de 30% dos visitantes, se não mais, que eram de Hong Kong, que é um óptimo mercado. A reacção do Turismo tem sido notável, mesmo durante a pandemia foi sempre notável, sempre criativa a tentar atrair visitantes. Assim que reabriu com Hong Kong, quase na mesma semana tínhamos aqui o Hong Kong Tourism Council. Vieram 40 responsáveis e visitaram Macau, os resorts mas também outros cantinhos de Macau. Foi lançado um incentivo e a resposta foi fantástica. É um mercado importante e um mercado que está aqui ao lado. É importante porque não só gostam de pernoitar como gostam de ir a restaurantes, apanham transportes, fazem compras, vão aos casinos. Vão a todas.

       

      Sente-se uma procura que os hotéis não conseguem actualmente satisfazer?

      Evidente. Nós vendemos o que podemos. A partir de certa altura vemos que os recursos não são capazes e não podemos aceitar. Mas vemos a oportunidade. Se há procura, nós temos de ter oferta. Agora houve um ‘boom’ do Ano Novo Chinês e vamos ver qual será o comportamento. Já foi uma vitamina boa, estamos todos contentes com a prenda que tivemos que foi o levantamento de restrições. Houve uma resposta rápida e agora temos de ver para a frente. Agora é uma questão de comportamento dos mercados. Temos de ter muito cuidado quando sabemos que estão muitos turistas a entrar-nos pela porta do hotel e nós não temos capacidade. Temos de nos ajustar, mas é sempre difícil não conseguir servir. Temos de nos ir preparando, temos de ir entendendo como é que se vão comportar os mercados. Todos temos de nos equipar agora.

       

      Como é que os hotéis se podem preparar a curto prazo?

      Há que ver se temos os recursos adequados às nossas necessidades. Para o que Macau cresceu nos últimos 20 anos, para o número de camas que temos, para a oferta turística que existe, precisamos sempre de recursos de fora, que são da China Continental, das Filipinas e de outros países. Esperamos que agora haja um aceleramento de importação de trabalhadores não-residentes.

       

      Nota que os residentes não querem trabalhar nos hotéis?

      Há áreas na hotelaria que são exigentes. É preciso olhar para a demografia da cidade e ver o que vai acontecer no futuro. Estamos a ficar mais velhos, há outras ocupações mais entusiasmantes para quem estuda. Tudo tem de ser analisado. Há sempre formas de se ajustar o tipo de serviço aos recursos que temos. A resolução da questão da falta de recursos humanos não pode ser muito demorada, senão perdemos os padrões de qualidade e estamos a competir com outras cidades que têm menos problemas desses.

       

      A Associação dos Hotéis tem alertado o Governo para essa questão?

      Sim. Já tivemos reuniões com o Governo. Temos estado em diálogo.

       

      Qual é que tem sido a reacção das autoridades? Houve alguma promessa?

      Têm prometido que vão acelerar a questão da importação de mão-de-obra. Estamos ansiosos para podermos estar mais preparados.

       

      FOTOGRAFIA: GONÇALO LOBO PINHEIRO

       

      Tendo por base os números de 2019, quando entraram em Macau quase 40 milhões de turistas, sente que há falta de quartos de hotel em Macau?

      É preciso olhar para a capacidade da cidade. Mais de 39 milhões de visitantes é um óptimo número, mas podíamos se calhar 30 milhões de grande qualidade. O que é preciso é termos em Macau um produto que faça as pessoas ficarem mais tempo. É o tipo de oferta de produto que conta. E aí, se calhar, não entram 39 milhões. O que Macau tem de fazer é conseguir com que as pessoas fiquem mais tempo, que sejam menos mas que gastem mais. É essa aposta que Macau deve fazer. Eu acho que Macau tem de tentar que [os turistas] não sejam tantos, mas pernoitem mais.

       

      Como é que se consegue isso?

      Com o produto. É preciso que haja a atracção de grandes conferências. Os acessos têm de melhorar, o aeroporto tem de ter maior capacidade, o fluxo de barcos maior.

       

      Ou seja, melhorar as infraestruturas, mas manter o número de quartos.

      Sim, é tudo uma questão de pernoitas per capita. É isso que quase todos os mercados querem. É essa ocupação que é preciso trabalhar com o tempo.

       

      Antigamente, os promotores de jogo reservavam vários quartos de hotel para jogadores que muitas vezes não eram utilizados. Isso continua a acontecer?

      É possível que tenha ainda havido um caso ou outro, mas não estou por dentro.

       

      Isso acaba por alterar a taxa de ocupação dos hotéis, porque apesar de os quartos estarem reservados não está lá ninguém.

      O hotel vendeu o quarto, pode é não estar lá ninguém. Isso faz parte da especificidade da terra. Há muitos turistas que não passam a noite no hotel. Se os quartos estão vendidos, fazem parte da taxa e ocupação.

       

      Ao longo dos últimos três anos, os hotéis baixaram os preços dos quartos e dependeram sobretudo das ‘staycations’. Agora, com o regresso dos turistas, os preços estão a disparar.

      É a lei da procura e da oferta. Depende de cada hotel. Os hotéis declaram o preço médio e não o podem ultrapassar. Depois é uma questão da procura e da oferta. É o mercado.

       

      Isso não poderá afastar turistas?

      A taxa de ocupação foi de 85,7%. Um turista não é obrigado a ir para um hotel que pede nove mil, pode ir para um hotel que pede dois ou três mil. É preciso ver se esses preços são ou não inflacionados por outras entidades, como agências de viagens online, ou são mesmo do hotel.