O analista alemão Dirk Schmidt, da Universidade de Trier, considerou em declarações à Lusa que o chanceler Olaf Scholz optou por uma posição tradicional na sua visita à China, com apelos repetidos condenados a “cair em saco roto”.
“Scholz está obviamente determinado a continuar a praticar o ‘business as usual’, mesmo que o contexto tenha mudado enormemente”, comenta o diretor da cátedra de Política e Economia da China, comparando o atual chanceler à sua antecessora.
“O Chanceler agiu de forma semelhante a Angela Merkel, para se apresentar como um pilar estável numa época de turbulência e de crises geopolíticas (…) Infelizmente, as suas observações e acções também foram muito tradicionais, no sentido em que não foi além dos apelos habituais, mesmo ‘ritualistas’, à China, ou seja, abster-se de praticar dumping, envolver-se numa concorrência leal, respeitar as condições de concorrência equitativas, pressionar a Rússia a pôr termo à guerra na Ucrânia”, analisou.
Tal como Merkel, o líder do governo alemão optou nesta sua segunda visita oficial à China por viajar com uma delegação de administradores empresariais e por conversar com estudantes em Xangai. “Tudo isto vai cair em saco roto na China, o que prova que a Alemanha, sob a sua liderança, é bastante impotente para desviar a China do rumo que tomou sob Xi Jinping”, comenta Dirk Schmidt.
Nesta viagem de três dias que terminou na terça-feira, também foram os responsáveis alemães pelas pastas do ambiente, Steffi Lemke (dos Verdes), transportes e digitalização, Volker Wissing (do partido FDP), e agricultura, Cem Özdemir (dos Verdes), estando assim representados os três partidos que formam a coligação do governo alemão.
A situação dos direitos humanos, que foi no passado motivo de desentendimentos dos parceiros da coligação “semáforo”, não desempenhou um papel significativo, mesmo depois do apelo lançado pela organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW).
“Os partidos no governo desta vez esforçaram-se por não mostrar as suas diferenças em relação à forma de lidar com a situação desastrosa dos direitos humanos na China tão claramente como no passado, como foi o caso no contexto da visita de Scholz em 2022. A agenda das conversações estava, de facto, repleta de temas diversos, como as exportações alemãs de carne de porco para a China, a cooperação no domínio da condução autónoma e, sem esquecer, a atual situação na Ucrânia e no Médio Oriente”, lembrou o diretor da cátedra de Política e Economia da China.
Durante a visita de três dias, que incluiu paragens em Chongqing, Xangai e Pequim, o líder alemão tentou reforçar os laços económicos do seu país com a China, o principal parceiro comercial da Alemanha, enquanto representa uma União Europeia (UE) que quer ser menos dependente economicamente do país asiático.
No complexo diplomático de Diaoyutai, em Pequim, Olaf Scholz disse a Xi que queria discutir uma forma de “contribuir mais para uma paz justa na Ucrânia”.
O analista político Dirk Schmidt não vê “consequências positivas imediatas” dos apelos feitos por Olaf Scholz. “É um caso de auto ilusão pensar que a China pode exercer pressão sobre a Rússia para pôr termo à guerra na Ucrânia ou ter qualquer papel positivo a desempenhar numa conferência de paz na Suíça. A China não é um mediador honesto, mas sim um parceiro convicto da Rússia que só se esquiva a fornecer armas à Rússia porque teme sanções secundárias dos EUA”, sublinha.
No que diz respeito às relações económicas com a China, Schmidt teme que fraturas no seio da UE se reabram assim que a Comissão Europeia decida aplicar direitos aduaneiros às importações de automóveis provenientes da China. “A Alemanha tinha prometido, no seu documento de estratégia para a China de 2023, alinhar mais a sua política com a da UE, mas até agora, neste caso, mais uma vez, manteve-se muito tradicional na sua posição de apoiar o comércio livre, aconteça o que acontecer”, avalia.
A visita de Olaf Scholz à China surgiu numa altura em que a UE acusa a China de distorcer o mercado europeu ao inundá-lo com produtos baratos, desde veículos elétricos a turbinas eólicas e painéis solares. Lusa