Os manifestantes contra o Governo do Sri Lanka afirmaram ontem que não vão respeitar o ultimato das autoridades cingalesas para abandonarem até esta sexta-feira à tarde o local onde estão concentrados. Depois de mais de 100 dias em protestos, algumas tendas do acampamento Gota Go Gama, cujo nome advém do antigo líder do Sri Lanka Gotabaya Rajapaksa, deposto no mês passado, permanecem ainda intactas. Os manifestantes afirmam que só sairão do local com uma ordem judicial, recusando a exigência das forças policiais. “Dissemos que iríamos passar por procedimentos legais e não curvar a cabeça perante estes políticos corruptos. Isto foi apenas um comunicado da polícia e não dos tribunais”, defendeu um dos manifestantes, Angelo Kulasuriya. “Mesmo que tenhamos de sair daqui, o nosso movimento ainda não terminou. Isto será uma pausa na nossa luta”, disse a activista Udari Ayesha à agência noticiosa EFE. A reacção dos manifestantes é em resposta do ultimato lançado na quarta-feira pela polícia do Sri Lanka para desocupar o acampamento até às 17:00 horas de sexta-feira. “Ajam em conformidade e não obstruam o público”, advertiram as forças de segurança, ameaçando com consequências legais aqueles que desafiarem a ordem. O aviso policial de quarta-feira vem juntar-se às detenções de ativistas e participantes nos protestos por alegadamente causarem danos a bens públicos e desobedecerem às ordens do tribunal. Entre os detidos encontra-se o secretário-geral do Sindicato dos Professores, Joseph Stalin, cuja detenção indignou centenas de ativistas que se reuniram ontem na capital para exigir a sua libertação. “O trabalho de defensores dos direitos humanos, como Joseph, tem sido mais importante do que nunca nas últimas semanas e deve ser apoiado, não punido”, disse a relatora especial das Nações Unidas para os Defensores e Defensoras de Direitos Humanos, Mary Lawlor, na rede social Twitter, na quarta-feira. O novo presidente da nação insular, Ranil Wickremesinghe, que se comprometeu a respeitar os direitos dos manifestantes, avisou porém que não ia tolerar a violência no país. “A luta pacífica é um direito fundamental. Aceito esses direitos (…), protegerei a não-violência e a democracia”, comentou o presidente, que 15 dias depois de chegar ao poder impôs o estado de emergência no país, apertando as regras sobre manifestações de rua. “Estou aqui há 118 dias. O Governo está claramente a tentar silenciar-nos. A polícia está agora a invadir as nossas casas”, disse o activista Samali Mandira à EFE.