N N Quatro anos depois da primeira emissão televisiva, os problemas financeiros da TDM eram conhecidos e avançou-se para um processo de semi-privatização, que viria a estar envolto em suspeitas de corrupção. Superado esse período, a empresa alcançaria então alguma estabilidade.
No final da década de 80, dados os conhecidos problemas financeiros da Teledifusão de Macau (TDM), iniciou-se um processo de semi-privatização. Veio a público então de que este poderia estar a ser preparado para facilitar a entrada da Emaudio — uma empresa, detida pelo magnata dos média britânicos, Robert Maxwell, que tinha tido por sócio o antigo governador de Macau, Carlos Melancia. O caso abalou as estruturas da empresa e veio parar às páginas dos jornais.
Os eventos precipitaram-se. Em 1 de Fevereiro de 1988, por decreto de Carlos Melancia, é atribuído à TDM o estatuto de sociedade anónima. Em Abril desse mesmo ano, é decretada a prisão preventiva do presidente da TDM, António Ribeiro, e de um administrador da empresa, Leonel Miranda, por suspeita dos crimes de peculato e burla. Em Junho, o semanário Expresso noticiou a participação de Melancia em reuniões com vista à venda da TDM à Emaudio — empresa de que tinha sido fundador — de 49% do capital, por um preço mais baixo do que a avaliação oficial do valor da empresa.
Maria de Belém Roseira era administradora da empresa um ano antes de tudo isto acontecer e recorda-se do ambiente dessa altura. Com os problemas financeiros da casa, estava então a estudar-se a possibilidade de venda dos canais, até porque “em Hong Kong entra em vigor a proibição da publicidade ao tabaco, e a TDM não teria”, tornando a emissora local “apetecível”, recordou a antiga administradora, numa conferência sobre os 40 anos da TDM, organizada pelo Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa. Mas é aí que surgem as dificuldades, cujo início Maria de Belém Roseira vivenciou, “designadamente com Maxwell e a Emaudio e todo um conjunto de empresas que tiveram alguns problemas”. Na realidade, viria a tomar uma decisão: “Entendi que se estavam a passar coisas que não me agradavam e escrevi uma carta, justificando a apresentação da minha demissão e vim-me embora.”
O melhor período: antes da transferência
Na década de 90, altura em que o governador passa a ser Rocha Vieira, “as coisas começaram a estabilizar”, destaca o jornalista Jorge Silva. Foi nesse período, a 17 de Novembro de 1990, que a TDM começou a operar com dois canais — um em língua portuguesa (Canal I) e outro em língua chinesa (Chong Man Toi). “Ficámos com mais meios, tínhamos uma agenda em comum, começámos a ter equipas próprias, maior autonomia, o que permitiu a ambos os lados ter hipótese de fazer mais trabalhos autónomos, fidelizámos públicos”, salienta.
No geral, até 1999, viveu-se um bom período na TDM. “As coisas andavam muito bem, na fase que antecedeu a transferência. A TDM era o centro do mundo, dávamos apoio a toda a gente. As maiores televisões estavam aqui, dia sim dia não, havia grandes crises com as seitas, assassinatos, bombas, havia sempre notícias”, diz o jornalista João Guedes, assinalando que foi um período particularmente “interessante e desafiante”.
Maria do Carmo Figueiredo veio nessa década. Nomeada pelo governador Rocha Vieira, foi presidente da Comissão Executiva da TDM entre 1992 e 1996, e trabalhou com um Conselho de Administração, presidido por Stanley Ho e integrado, entre outros, por José Egreja, Ambrose So e Roldão Lopes. Mais tarde, em 1995, Edmund Ho, que viria a ser o primeiro Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau, integrou o Conselho de Administração da TDM. “Foi um período de grande aposta na informação e na produção, nos canais chinês e português, como também de cooperação com as televisões da China, a RTP e as televisões dos PALOP. E também de reforço de profissionais”, recorda, no discurso que proferiu na conferência sobre os 40 anos da TDM, no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa.