Numa altura em que o aborto volta a estar nas bocas do mundo, por culpa da decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos que revogou a decisão histórica de 1973, denominada de “Roe vs. Wade”, que consagrava o direito da mulher ao aborto, o PONTO FINAL conversou com um padre católico radicado no território. Daniel Ribeiro defende que caso a mãe não queira ou não tenha condição de ter um filho, “ela tem todo o direito de depois doar a criança para uma instituição”, até porque, considera, “existem muitos pais que querem adoptar”.
O aborto voltou a estar nas paragonas mundiais. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos revogou a decisão histórica de 1973, denominada de “Roe vs. Wade”, que consagrava o direito da mulher ao aborto. Efeito imediato: dez estados norte-americanos — Alabama, Arkansas, Kentucky, Louisiana, Missouri, Ohio, Oklahoma, Dacota do Sul, Utah e Wisconsin — revelaram o seu conservadorismo e já colocaram um fim a direito.
Em Macau, os Serviços de Saúde têm vindo a sustentar que “não existem planos” para a alteração do regime jurídico de interrupção voluntária da gravidez, datado de 2004, no caminho de uma total despenalização do aborto. O assunto tem sido tabu e o território, nesta matéria, não segue a bitola da mãe-pátria onde o aborto é legal, acessível a muitas mulheres
Várias personalidades, quando instadas a comentar a questão, acabam por ser parcas em palavras e admitem que seja difícil ir contra as posições da Igreja Católica, que em Macau tem alguma influência e relevância.
O PONTO FINAL conversou com o padre católico Daniel Ribeiro, que recordou um caso recente no Brasil que tem vindo a acompanhar de perto. “Estou a par de uma situação que ocorreu no Brasil com uma criança de 11 anos que terá engravidado de um adolescente de 13 anos e ela estava grávida de um bebé de sete meses. Aí aconteceu um aborto com a autorização da Justiça”, começou por dizer.
Daniel Ribeiro sustenta a sua opinião totalmente naquilo que a Santa Sé defende nesta matéria. “A igreja acredita que a vida humana deve ser respeitada desde a sua concepção até à sua morte natural. A vida humana começa quando o espermatozoide fecunda o óvulo. Pode até haver uma dúvida científica quando começa a vida humana, mas se existe uma dúvida humana não se pode matar um feto”, referiu o presbítero.
O padre brasileiro, radicado em Macau há diversos anos, considera que o direito da mãe “deve ser respeitado”, porque a mãe “é um ser humano que deve ser respeitado em toda a sua integridade”. “Mas quando se envolve mais de uma vida, as duas vidas devem ser respeitadas”, constatou
E vai mais longe. Daniel Ribeiro defende que o aborto “é um assassinato de uma pessoa indefesa”, sugerindo soluções em seguida. “Caso a mãe não queira ou não tenha condição de ter um filho, ela tem todo o direito de depois doar a criança para uma instituição. Existem muito pais que querem adoptar.”
O brasileiro reitera ao nosso jornal que o ponto principal de toda esta discussão “é que existe ali um ser humano”. “Se existe um ser humano, tem todos os direitos, mesmo que ele não esteja totalmente e plenamente desenvolvido, tal e qual observamos uma pessoa já maior. A questão é saber-se como é que trata uma vida que já existe. Se existe uma vida já dentro da barriga da mãe, aquela vida há de ter que sair por duas formas: através de uma cesariana ou de um parto natural, ou através de um acto abortivo onde o feto já existente será violentamente assassinado”, apontou, sublinhando uma vez mais que a Igreja Católica “defende a vida” e “a primeira forma é a melhor, a maia correcta e a mais justa”.
A diocese de Macau tem vindo a promover uma agenda pró-vida. Já este ano, após a eleição dos novos membros da Comissão Diocesana para a Vida, para o triénio 2022-2025, em Junho, o padre Michael Cheung referiu que “numa perspectiva geral, a maior parte das religiões são pró-vida”. “Embora as leis de Macau protejam a dignidade humana melhor do que em outras cidades ou regiões, o mesmo não acontece com os gestos e as práticas dos cidadãos. Há muitas coisas que sucedem e sobre as quais não temos conhecimento, não são noticiadas ou, pura e simplesmente, são feitas às escondidas. Ainda necessitamos de reforçar a compreensão das pessoas e de mobilizar o seu apoio para que a legislação seja mantida”, defendeu, ainda, em declarações ao semanário católico O Clarim.
Um mês antes, o Bispo de Macau, Stephen Lee, havia considerado, durante a antestreia do filme pró-vida “Unplanned”, que é preciso “falar toda a verdade” sobre o procedimento do aborto. “O filme não pretende divulgar como a Igreja Católica encara o aborto, nem promover qualquer outra coisa. Trata-se de dizer a verdade, especialmente a verdade sobre o procedimento do aborto. Além disso, sou totalmente contra a violência. No mundo de hoje, muitas pessoas concordam que a vida não deve ser destruída, mas o maior problema é que as pessoas não pensam que um embrião é uma vida. Para elas, um feto não tem vida”.
PONTO FINAL