Tem a capacidade de transformar o mundo
e transformou-o na Rua dos Douradores
por onde vai e vem todos os dias, seja ao sol seja à chuva
sem dar nenhum pulo a nenhuma parte do mundo.
Não caminha sozinho, sempre acompanhado de um, dois ou três…
outros do seu Eu próprio
que vivem consigo diversos e unidos.
Nunca pensa numa paixão qualquer
acabou por ficar apaixonado
tal como se num ramo nu e seco
a rebentarem de súbito folhas e botões.
Louco de amor, passeia com a Ofélia de mãos dadas
escrevendo, na palma dela, cartas de amor.
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Depois de dar o ponto final à última carta de amor
decidiu fugir ao amor
como um tigre do circo pretende escapar
ao anel de fogo.
Viu nas profundezas do olhar da Ofélia
o anseio do casamento
que é, afinal, um receio do amor.
O seu corpo do homem também aspira ao amor e prazer
mas prefere ser escravo
de um coração um pouco maior do que o universo inteiro.
Mais do que cheirar uma rosa real
prefere possuir uma do imaginário
mesmo que a Ofélia esteja a murchar no roseiral.