A mais recente exposição da artista Crystal Wai Man Chan, “Subtropical Romance”, funde os temas da viagem, da memória e do desejo pessoal e apresenta 17 pinturas tropicais que estarão expostas na galeria da Associação Cultural da Vila da Taipa até 8 de Fevereiro de 2025.
A galeria da Associação Cultural da Vila da Taipa inaugurou na noite de quarta-feira uma nova exposição intitulada “Subtropical Romance”, da artista nascida em Macau, Crystal W. M. Chan. A exposição, que estará em exibição até 8 de Fevereiro de 2025, convida os espectadores a contemplar as experiências emocionais e sensoriais associadas às viagens e serve como uma reflexão pessoal sobre a forma como os lugares podem evocar sentimentos de saudade e nostalgia.
Chan descreve os trópicos como um lugar repleto de romance e afirmou: “Há um romance nos trópicos. Uma história que os turistas contam aos outros sobre as suas viagens no regresso a casa. Falam de praias distantes, frutos exóticos e palmeiras”.
Para a artista, esta sua exploração temática vai para além da mera representação e aprofunda as fantasias e as narrativas cultivadas pelos viajantes sobre a “boa vida” em cenários paradisíacos.
João Ó, curador da exposição, disse que a mostra oferece uma visão da intenção artística por detrás do trabalho de Chan. Ó salientou que o termo “subtropical” não se refere a um local específico, mas evoca uma região climática caracterizada pelo calor e pela elevada humidade. Esta atmosfera encoraja “a transpiração, a carne exposta e a sensualidade física”. O curador articulou ainda os tons psicológicos da exposição e sugeriu que algumas pinturas retratam “fragmentos de lugares exóticos mas vazios, sugerindo que alguém esteve lá”, o que cria o ambiente misterioso, mas familiar, presente nas obras expostas. A colecção apresenta retratos de paisagens tropicais, praias ensolaradas, frutos exóticos e palmeiras, todos eles símbolos do paraíso.
Através da sua prática artística, Chan reflecte sobre as suas próprias experiências enquanto viajante e habitante de Macau. “Ao crescer em Macau, nunca pensei que fizesse parte dessa história”, comentou a artista, reconhecendo o impacto transformador do turismo na sua cidade natal. “Um fluxo interminável de turistas vem à cidade para fugir das coisas familiares e encontrar o paraíso num lugar desconhecido”.
Esta exploração do lugar não se limita ao ambiente físico, mas abrange também as paisagens emocionais. Nas suas obras, Chan emprega representações de naturezas mortas que incluem frutos tropicais e flora, assinalando temas mais profundos de desejo e sensualidade.
O passado de Chan, que estudou e trabalhou em vários países e regiões, incluindo Taiwan, Grécia e Nova Iorque, moldou a sua narrativa artística. As suas experiências de vida em ambientes diversos levaram-na a abordar questões relacionadas com a identidade e a representação, os preconceitos sociais e as complexidades das expectativas de género. “Tive de explicar e reflectir sobre o que significa ser chinesa para mim, se sou apenas uma chinesa da China ou o quê? O que é que isso significa? O que é que estou a representar? O que é que as pessoas pensam de mim? O que é que significa o facto de ser mulher? Será que isso é importante? Penso que Macau me deu muito que pensar sobre a identidade, a diáspora chinesa e também sobre o género. Infelizmente, acho que as pessoas não falam sobre género em Macau”, explicou a artista em declarações ao PONTO FINAL, acrescentando que a região a alterou fundamentalmente como artista e, consequentemente, alterou a sua arte. “Lembro-me de quando tinha 20 e poucos anos e viajava, quando dizia às pessoas que era de Macau elas não sabiam o que era e eu tinha de explicar muitas coisas, como por exemplo, que é ao lado de Hong Kong, que é a China mas não é bem a China, que era uma colónia portuguesa, tinha de contar toda essa história. Com o tempo tornei-me mais famosa, mas ainda há o síndrome das cidades pequenas, preocupa-nos sempre que as pessoas não saibam de onde somos”.
“Subtropical Romance” capta um momento crucial no percurso artístico de Chan, coincidindo com as fases de transição da sua vida, incluindo a maternidade. “A maior parte das pinturas foram feitas este ano, quando eu estava grávida. Acho que isso me influenciou, mudou a minha maneira de pensar, mudou a minha forma de ver o mundo”, comentou, descrevendo a sua intenção de tecer uma narrativa pessoal na sua obra de arte: “Penso que no passado os meus quadros eram mais sombrios, desta vez é diferente, estou em fases diferentes da minha vida. Quando estava sozinha, quando era estudante ou quando passava por todas as dificuldades de viver sozinha em Nova Iorque, isso influenciou-me a mim e à minha arte. Mas agora estou casada, tenho a minha filha, sou uma pessoa feliz”. O método de Chan tem evoluído ao longo do tempo, observou a artista, que acrescentou que o seu trabalho “tem sempre a ver com o envolvimento e o ambiente”.
A exposição abre um diálogo entre o espectador e as paisagens tropicais, encorajando a exploração das próprias memórias e sentimentos relacionados com as viagens. Chan concluiu que o seu trabalho pretende mostrar como “os lugares se transformam em desejos, de climas e atmosferas sentidos e recordados”. Ao entrarem no mundo de “Subtropical Romance”, os visitantes são convidados a participarem num diálogo artístico sobre a intersecção do mundo, a identidade, as recordações e a emoção.