Comerciantes de Macau disseram à Lusa esperar pouco desta época de Natal, tradicionalmente forte, adiantando que o negócio está pior do que no ano passado.
No centro histórico de Macau, sempre cheio de turistas, uma sapataria, com 40 anos de actividade no ramo, está praticamente vazia e os poucos clientes que entram na loja limitam-se a olhar. “Estou pessimista em relação às férias [do Natal] e não estou à espera de ganhar dinheiro” nesta época, disse à Lusa Liu Iok Leng, da Fu Tian. Apesar das promoções, o negócio continua mau e “pior do que no ano passado. Não importa o feriado, as pessoas não têm dinheiro para consumir e só olham”, acrescentou Liu Iok Leng.
Na mesma rua, a Pedro Nolasco da Silva, algumas dezenas de metros à frente, uma joalharia, a Love Story Silver, queixou-se do mesmo. O cartaz de saldos de Natal está à porta, mas, na loja, só a proprietária, que faz algumas peças. À Lusa, Kelly Kong afirmou que o negócio está “muito mau”, com uma quebra de 20% em relação ao ano passado: “normalmente, a loja só vende uma ou duas peças por dia”. “As pessoas vêm para viajar, não para fazer compras, mas apenas para fazer turismo. Eu também, quando viajo, limito-me a comer a comida local, não faço compras”, observou.
Mas também os restaurantes sentem a crise, como disse à Lusa o proprietário do Tomato, a funcionar há 20 anos, numa zona a caminho das Ruínas de São Paulo, uma das principais atracções da cidade. “Em comparação com o ano passado, o negócio desceu 30% a 40%, mas 2023 foi bom, muita gente vinha ao restaurante”, afirmou Oscar Cheong. Agora, “vê-se que lá fora há muita gente, mas muito pouca entra e quem entra gasta menos”, sublinhou o dono do restaurante que afirma vender comida macaense. “O nosso restaurante não é caro, 70 patacas a 100 patacas por pessoa. Teoricamente, o consumo em geral é baixo. Até os restaurantes mais caros veem o negócio deles a cair ainda mais”, acrescentou. Oscar Cheong disse ainda que “a maioria dos turistas vem da China continental. A própria actividade interna da China não é boa. Quando os turistas vêm a Macau, gastam menos”. “Este mês de Dezembro deve ser pior. Antes, os habitantes de Hong Kong eram um mercado importante para Macau em Dezembro. Agora, os habitantes de Hong Kong deslocam-se à China continental e ao estrangeiro. E o consumo em Hong Kong também não é bom, pelo que o impacto em Macau é maior”, considerou.
As estatísticas confirmam o impacto. O volume de vendas dos retalhistas em Setembro deste ano caiu 20,7% em relação ao ano anterior, de acordo com os últimos dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Já o diretor da Federação da Indústria e Comércio de Macau Distritos Centro e Sul, Lei Cheok Kuan, reconheceu a quebra no consumo, mas manifestou optimismo no futuro. “O negócio deverá ser bom durante as férias de Natal, apesar da alteração do padrão de consumo, haverá pessoas suficientes para apoiar e preencher lacunas nos negócios”, sublinhou o também empresário. Lei Cheok Kuan acrescentou que “Macau tem sido classificado como o destino turístico número um na China”. “O Governo tem trabalhado muito para promover a indústria do turismo de Macau, por isso estou muito optimista quanto ao futuro a longo prazo”, avançou.
Em Outubro, Macau recebeu mais de 3,1 milhões de visitantes, uma subida de 13,7% em termos anuais. A entrada de 3.135.358 visitantes no território representa “uma recuperação de 97,7% do número” verificado no mesmo mês de 2019, ainda antes da pandemia da Covid-19, disse a DSEC. Em termos de origens de visitantes, a maioria (2.263.443) chegou do interior da China, o que representa uma subida de 16,1% em relação ao mesmo mês de 2023. Já entre Janeiro e Outubro, o número de visitantes em Macau totalizou 29.056.272, mais 28,1% face ao período homólogo de 2023. Antes, a Polícia de Segurança Pública (PSP) anunciou que o número de visitantes a chegar a Macau, este ano, até 10 de Novembro, ultrapassou os 30 milhões. Macau recebeu no ano passado 28,2 milhões de visitantes, quase cinco vezes mais do que no ano anterior e 71,6% do recorde de 39,4 milhões fixado em 2019, de acordo com dados oficiais da DSEC.