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      InícioOpiniãoEventos em destaque em 2024

      Eventos em destaque em 2024

      O ano de 2024 representou sem surpresas um prolongamento das tendências da vida mundial iniciadas no princípio da década com o acumular de linhas de fracção tanto no continente americano, como no europeu ou na Ásia. A decepção da década tem sido o fracasso do aquietamento das tensões internacionais, a desvalorização do direito internacional com a secundarização do papel das Nações Unidas como bitola do sistema de segurança internacional.

       

      Vitória de Trump nas eleições presidenciais nos Estados Unidos

       

      A vitória de Donald Trump em Novembro de 2024 marcou o seu retorno à Casa Branca como o 47º presidente do país. Derrotando a vice-presidente democrata Kamala Harris, Trump tornou-se o primeiro presidente em mais de 120 anos a ser reeleito após uma derrota anterior.

      A campanha de Trump destacou-se por sua capacidade de ampliar a base de apoio, conquistando eleitores em grupos tradicionalmente democratas, como grupos étnicos negros e latinos. Além disso, o Partido Republicano obteve maiorias no Congresso e no Senado, facilitando a governabilidade.

      A reeleição de Trump gerou reações diversas na comunidade internacional. Existe a previsão que o seu retorno à presidência poderá reformular a política externa dos Estados Unidos, com impacto relevante nas relações comerciais e diplomáticas com a Europa e sobretudo a China.

       

      Crescimento das autocracias e regimes ditatoriais

       

      O crescimento das autocracias nas últimas décadas tem gerado preocupações globais sobre o estado da democracia e dos direitos humanos. Este fenómeno tem se manifestado em várias partes do mundo, onde líderes autoritários consolidam o poder através da manipulação dos sistemas eleitorais, censura da imprensa, repressão a opositores e enfraquecimento de instituições democráticas. Esses regimes frequentemente apresentam-se como soluções a crises económicas, políticas ou sociais, oferecendo estabilidade em detrimento de liberdades individuais e pluralismo político.

      Entre os fatores que impulsionam esse crescimento estão as desigualdades económicas, o descontentamento com a governança democrática e a disseminação das notícias falsas. Muitos cidadãos, frustrados com a ineficácia de governos democráticos em respoder às suas aspirações, tornam-se receptivos a líderes que prometem respostas rápidas e centralizadas.

       

      O recuo da economia chinesa

       

      A economia chinesa tem apresentado sinais de desaceleração nos últimos anos, refletindo desafios internos e externos que afetam seu crescimento. Em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu aproximadamente 4,8%, abaixo da meta governamental dos 5%.  Este desempenho representa uma desaceleração em relação a anos anteriores, indicando dificuldades em manter o ritmo acelerado de crescimento que caracterizou o país nas últimas décadas.

      No comércio exterior, a China registou um crescimento de 6% nos primeiros oito meses de 2024, com o valor total das importações e exportações alcançando 28,58 trilhões de yuans.  Apesar desse aumento, o superávit comercial com parceiros tradicionais apresentou uma queda significativa em relação ao ano anterior.

      Entre os fatores que contribuem para essa desaceleração estão a crise no sector imobiliário, o aumento das dívidas dos governos locais e a diminuição da confiança dos consumidores. Em resposta, o governo chinês tem implementado medidas de estímulo económico, como cortes nas taxas de juros e flexibilização das restrições para compra de imóveis, visando revitalizar a economia, mas os resultados têm ficado aquém das previsões

       

      A explosão da Inteligência Artificial

       

      A explosão da inteligência artificial (IA) nos últimos anos tem transformado profundamente a maneira como as pessoas vivem, trabalham e interagem. Tecnologias baseadas em IA, como aprendizagem de máquinas e redes neurais, estão a ser usadas em sectores como saúde, as finanças, a manufatura e a educação. Ferramentas como assistentes virtuais, sistemas de recomendação e modelos generativos revolucionaram os desafios do dia-a-dia, tornando-o mais eficiente. Empresas tecnológicas têm investido bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento, acelerando o avanço dessas inovações.

      Apesar dos benefícios existem riscos associados à IA, como a manipulação pelo algorítmo, a ruptura na privacidade de dados e o seu uso em tecnologias militares e na vigilância cibernérica o que tem despertado uma onda de catastrofismo ligado à generalização da IA. Para lidar com estes desafios vários países estão a desenvolver regulamentações específicas e investindo em capacitação técnica. O foco tem sido em criar diretrizes que promovam o uso responsável da IA, garantindo sua transparência, segurança e equidade. À medida que a tecnologia avança, a colaboração entre governos, academia e sector privado será crucial.

       

      Hong Kong perde competitividade face a Singapura

       

      Hong Kong sendo historicamente reconhecido como um dos maiores centros financeiros globais, tem enfrentado desafios crescentes que comprometem sua competitividade em relação a Singapura. Nos últimos anos, Hong Kong foi impactada por instabilidades políticas e alterações securitárias que geraram incertezas entre investidores e empresas multinacionais. Além disso, as rigorosas restrições relacionadas à COVID-19 dificultaram o crescimento económico.

      Singapura tornou-se o hub financeiro e tecnológico da Ásia. O país destaca-se pela sua estabilidade política, sistema regulatório eficiente e políticas fiscais atraentes, que incluem incentivos para empresas de tecnologia e inovação. Em 2023, Singapura superou Hong Kong no Índice de Centros Financeiros Globais, ocupando a terceira posição mundial, enquanto Hong Kong caiu para o quarto lugar. A capacidade de Singapura de atrair bancos, fundos de investimento e startups tecnológicas tem sido um dos principais motores dessa mudança, além de sua posição estratégica para o comércio marítimo e aéreo.

      Hong Kong tem factores favoráveis como a sua proximidade à China continental e a sua posição como porta de entrada para o mercado chinês. No entanto, para recuperar a sua competitividade, terá de enfrentar questões estruturais e políticas, além de adoptar estratégias que promovam a diversificação económica e melhorem a sua detereorada imagem internacional.

       

      A Rússia aprofunda a guerra contra a Ucrânia

       

      A intensificação do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, especialmente em 2024, reflecte uma escalada alarmante na guerra que começou em Fevereiro de 2022. Nos últimos meses, a Rússia ampliou as suas operações militares, concentrando ataques em infraestruturas críticas da Ucrânia, como centrais de energia, centros de transporte e depósitos de alimentos. Paralelamente, Moscovo tem reforçado as suas tropas com novos recrutas e equipamentos militares, apesar das sanções internacionais e do crescente desgaste interno.

      A Ucrânia, por sua vez, continua a demonstrar espirito de resiliência através do apoio contínuo dos países ocidentais. Os Estados Unidos e estados-membros da União Europeia têm fornecido armamento avançado, sistemas de defesa aérea e assistência financeira para ajudar Kiev a resistir à ofensiva. A Ucrânia lançou uma contraofensiva em regiões ocupadas, com vista a recuperar territórios estratégicosmas no ano transacto perdeu aproximadamente 3.600 quilómetros quadrados de território para a Rússia, um aumento significativo em relação aos 540 quilómetros quadrados perdidos em 2023.

      Donald Trump tem repetidamente afirmado que, como presidente dos Estados Unidos irá acabar com a guerra na Ucrânia rapidamente, implementando uma solução negociada entre a Rússia e a Ucrânia. Trump argumenta que, sob sua liderança, terá o poder de forçar uma cessação das hostilidades, devido ao relacionamento direto com o presidente russo Vladimir Putin levando a pressão sobre Moscovo e Kiev a um acordo de paz mais rápido, sem envolver mais os Estados Unidos num conflito externo.

      Arnaldo Gonçalves

      Jurista e antigo professor de Ciência Política e Relações Internacionais

       

       

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      “A decepção da década tem sido o fracasso do aquietamento das tensões internacionais, a desvalorização do direito internacional com a secundarização do papel das Nações Unidas como bitola do sistema de segurança internacional”