As empresas europeias na China pediram ontem a Pequim que esclareça a definição legal de segurança, que está a levar muitas companhias a separar as operações no país asiático das do resto do mundo.
De acordo com um relatório publicado pela Câmara de Comércio da União Europeia (UE) na China, as duas principais razões para este fenómeno são “a legislação chinesa, que exige que as empresas se estabeleçam por completo localmente”, e “razões geopolíticas, como o aumento contínuo das tensões comerciais, que estão a fazer com que as empresas ajustem as suas estratégias de cadeia de abastecimento e as políticas de investigação e desenvolvimento”.
Um processo que está a obrigar algumas empresas europeias, sobretudo em sectores estratégicos para Pequim, a isolar as subsidiárias na China para “mitigar riscos” e conseguir “cumprir as regulamentações locais e globais”, alertou a associação. “Gostaríamos de ver a localização das actividades de uma empresa apenas por razões comerciais”, explicou o presidente da câmara, Jens Eskelund, na apresentação do relatório.
O documento revela que 36% dos inquiridos disseram que adaptaram os seus produtos ou serviços ao mercado chinês por razões regulamentares, enquanto 24% o fizeram por razões políticas. “O conceito de segurança na China está definido de forma muito vaga, o que torna difícil para as empresas definirem o que pode constituir um risco de segurança”, disse Eskelund, acrescentando que a situação faz com que as empresas chinesas adotem uma abordagem cautelosa e “de não correr riscos” ao adquirirem serviços ou produtos estrangeiros.
Eskelund disse que as empresas europeias que tendem a fragmentar as operações na China incluem aquelas que operam nos setores automóvel ou farmacêutico ou aqueles “voltados para a tecnologia”.
O empresário disse ainda que alguns membros da associação lamentam a falta de clareza das autoridades chinesas “sobre o que é considerado ‘made in China'”, um rótulo que é por vezes um requisito para desfrutar de políticas favoráveis no país ou para concorrer a contratos públicos. “Por mais que estejamos localizados aqui, ainda somos vistos como empresas estrangeiras”, lamentou.
O relatório recomenda que as autoridades chinesas “aumentem a sua integração com a economia global e se afastem do caminho das políticas excessivamente auto-suficientes” e “melhorem a previsibilidade e a fiabilidade do ambiente regulamentar local”.
No entanto, o representante comercial destacou ainda fatores “muito positivos”, como a política da China de permitir a entrada de cidadãos da grande maioria dos países da UE sem visto, implementada desde o final de 2023 e que tem possibilitado “melhorar a comunicação” entre as sedes das empresas e as subsidiárias na China.
Investigação de Pequim descreve como discriminatórias barreiras comerciais da UE
A China divulgou ontem uma investigação que concluiu que a União Europeia (UE) está a sujeitar o país a barreiras comerciais discriminatórias e arbitrárias. Os produtos chineses estão sujeitos a um tratamento “mais desfavorável” do que os produtos de países terceiros, sublinhou o Ministério do Comércio chinês. Pequim anunciou em julho que estava a investigar práticas comerciais desleais da UE, após uma série de procedimentos de Bruxelas que visaram empresas chinesas suspeitas de distorcer a concorrência. O Ministério do Comércio da China disse ter concluído que o bloco europeu discriminou as empresas chinesas e “constituiu barreiras ao comércio e ao investimento”. A regulamentação europeia tem critérios vagos, o que gera “muita incerteza” e um “pesado fardo” para as empresas visadas, de acordo com um comunicado. O ministério criticou ainda a realização de inspeções surpresa, “que foram muito além dos limites necessários” e o comportamento dos investigadores, que descreveu como “subjetivo e arbitrário”. As empresas que não cumprirem estas inspeções correm o risco de “sanções severas”, o que cria “uma enorme pressão”, referiu o comunicado. O ministério disse que as investigações da UE obrigaram as empresas chinesas a abandonar ou a reduzir projetos, algo que lhes custou mais de 15 mil milhões de yuan (quase dois mil milhões de euros).