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      InícioOpiniãoCarminho e o encanto do Fado

      Carminho e o encanto do Fado

       

      Assistir ao concerto de Carminho em Tóquio foi uma experiência marcante, e não só pela grandiosidade da sua performance. Com a sua voz poderosa e carregada de emoção, a nossa compatriota trouxe ao palco uma tradição que é, desde 2011, Património Imaterial da Humanidade.

      Para os japoneses, cuja cultura valoriza a beleza e a fragilidade da existência através de conceitos como o mono no aware (a consciência da transitoriedade), o fado encontrou um terreno fértil. O público de Tóquio, tradicionalmente reservado, absorvia cada nota em silêncio reverente, mas a emoção era palpável. Carminho, por sua vez, partilhava o que traz consigo de Portugal: a saudade, o amor, a perda e a esperança, todas essas emoções que o fado tão bem traduz.

      Um dos momentos mais inesquecíveis da noite foi quando a artista lusa, acompanhada dos seus músicos — André Dias na guitarra portuguesa, Tiago Maia no baixo, e Flávio César Cardoso na guitarra clássica —, revelou o seu respeito pela cultura nipónica, interpretando uma canção de Misora Hibari, uma lenda da música, cantada em japonês.

      Uma homenagem inesperada e carregada de simbolismo, e o público, emocionado, uniu-se à fadista num coro comovente. Ver uma sala inteira, em Tóquio, partilhar de forma tão espontânea e sincera a dor e a beleza do fado confirma a sua essência como algo profundamente humano, um espelho de sentimentos que todos, em algum momento, reconhecem.

      Com esta primeira digressão pelo Japão, Carminho solidificou o seu papel como uma embaixadora da cultura portuguesa no mundo. Mais do que uma série de concertos, esta sua vinda foi uma jornada de descoberta, tanto para ela quanto para o público japonês.

      E o fado, como Património da Humanidade, mostra aqui o seu propósito: conectar nações, inspirar respeito mútuo e recordar que a nossa condição humana partilhada é a verdadeira essência da cultura.

       

      Vítor Sereno

      Diplomata

      Texto originalmente publicado no Diário As Beiras