O convite do Presidente timorense, José Ramos-Horta, a Eurico Guterres, antigo líder da milícia Aitarak, para participar nas celebrações da independência, que se assinala quinta-feira, indignou a sociedade timorense, com o tema da reconciliação a voltar ao debate.
O chefe de Estado explicou que o convite para participar no 49º aniversário da independência visa reforçar a reconciliação e a relação com a Indonésia, mas as associações envolvidas naquele processo afirmaram à Lusa que é preciso mais diálogo interno sobre o processo.
Eurico Guterres liderou a milícia Aitarak, responsável por vários ataques em Timor-Leste e pela destruição de Díli, após o referendo de 1999 que determinou o fim da ocupação da Indonésia e a restauração da independência, a 20 de maio de 2022.
Condenado em 2002 a 10 anos de prisão pelo Tribunal Ad Hoc de Direitos Humanos, Eurico Guterres esteve apenas detido na Indonésia entre 2006 e 2008, porque o Supremo Tribunal daquele país anulou a sentença. “Nós não concordamos. Fizemos uma carta ao Presidente da República a dizer que é preciso, primeiro, fazer a reconciliação entre nós, aqui em Timor-Leste”, afirmou Martinho Rodrigues Pereira, diretor executivo da Associação dos Ex-Prisioneiros Políticos.
Martinho Rodrigues Pereira lembrou que as “milícias utilizaram a força e a violência contra as pessoas e o Presidente tem de perceber isso”. “Os timorenses ainda não estão preparados para aceitar o regresso de Eurico Guterres”, afirmou o diretor executivo da Associação dos Ex-Prisioneiros Políticos, lembrando que o antigo líder da milícia Aitarak está na lista dos crimes graves.
Domingos Pinto de Araújo Moniz, diretor executivo da Associação de Vítimas para o período entre 1974-199, afirmou que os “timorenses não estão preparados para aceitar” o regresso de Eurico Guterres, nem dos mais de 300 elementos que constam na lista dos crimes graves. “Houve protestos sobre a possível presença. Informamos os nossos associados sobre o convite e muitos não concordaram, porque muitos foram vítimas da milícia Aitarak”, explicou Domingos Pinto de Araújo Moniz.
Aquele responsável salientou também que o “processo de reconciliação precisa de tempo”, explicando que em 2025 vai iniciar um programa de diálogo com a população sobre reconciliação, que pretende chegar a todos os sucos (conjunto de aldeias) do país. “É preciso que todo o povo perceba a reconciliação”, disse, salientando que muitos timorenses, até agora, “não aceitam a reconciliação”. “É normal”, acrescentou.
Ontem, citado na imprensa timorense, Eurico Guterres disse que não estaria presente nas celebrações do 49º aniversário da independência de Timor-Leste, que se assinala quinta-feira, com os principais festejos a realizarem-se no enclave de Oecussi. “Parece que ele sentiu que não era bem-vindo. O Presidente é que o convidou não foi o povo de Timor-Leste”, concluiu Domingos Pinto de Araújo Moniz. Lusa