A eleição de Donald Trump terá consequências negativas para a Europa, tanto pelas tarifas como pelo aumento da despesa pública na Defesa, sendo que o impacto no PIB da Zona Euro pode atingir os 0,5%, calculam analistas.
Após as eleições de 5 de Novembro, Donald Trump irá regressar à presidência dos Estados Unidos e o que se espera da sua governação, segundo os analistas consultados pela Agência Lusa, é uma política protecionista, nomeadamente com o aumento de tarifas aplicadas às importações.
“O principal efeito a médio prazo na área do euro é através do comércio”, nota Thomas Hempell, analista da Generali AM, sendo que “com Trump, uma tarifa geral de 10% sobre as importações seria um fator de mudança que aumentaria os obstáculos fiscais e estruturais à economia da Zona Euro e poderia reduzir pelo menos 0,2 pontos percentuais” da sua previsão de crescimento do PIB de 1,0% para 2025.
Já os analistas da Goldman Sachs projetam que as mudanças de política poderão ter um “impacto de 0,5% no PIB real na área do euro, variando entre 0,6% na Alemanha e 0,3% em Itália, com um impacto moderado de 0,4% no Reino Unido”. “Esperamos que a maior parte do impacto no crescimento se materialize entre o 1.º trimestre de 2025 e o 4.º trimestre de 2025”, indicam.
Os impactos económicos das propostas de Trump foram também analisados por economistas da London School of Economics, num estudo citado numa nota de análise da XTB, onde concluíram que os direitos aduaneiros propostos por Trump levariam a uma redução de 0,11% do crescimento na UE. “No entanto, a aplicação de direitos aduaneiros de retaliação aos produtos fabricados nos EUA poderá aumentar a pressão no sentido da baixa do crescimento mundial a longo prazo”, acrescentam.
A Alemanha será dos países do Velho Continente mais afetados por esta nova liderança, como destaca o instituto alemão ifo: “o rumo económico de Donald Trump irá colocar grandes problemas à Alemanha e à União Europeia”, alertam, numa nota de análise.
As exportações alemãs para os EUA poderão cair cerca de 15% se forem aplicadas tarifas mais altas, estima o instituto. “Trump está a seguir uma agenda claramente protecionista baseada em tarifas de importação mais elevadas e em maiores restrições ao comércio internacional, particularmente para a China e potencialmente também para a Europa”, afirma o presidente do ifo, Clemens Fuest, citado na nota, onde recomenda tomar as precauções apropriadas.
Quanto ao impacto nas bolsas europeias, a Allianz GI destaca numa nota de análise que “tarifas mais elevadas poderão afetar as acções dos mercados europeus e emergentes, especialmente aqueles que dependem do mercado dos EUA, tais como fabricantes de bens de luxo, automóveis, produtores de aeronaves e empresas siderúrgicas”. Por outro lado, “as acções de valor no setor do petróleo, finanças e potencialmente infraestruturas poderiam beneficiar num tal cenário”, admitem os analistas da Allianz GI.
Além dos impactos comerciais, são de destacar também as pressões para um aumento dos gastos militares. Como apontam os analistas da Goldman Sachs, “a reeleição de Trump provavelmente implicará gastos renovados com a defesa e pressões de segurança para a Europa”.
A Generali AM também salienta que “a pressão sobre a Europa no sentido de mais despesas militares irá aumentar o stress fiscal, especialmente para os países que até agora não atingiram a meta de 2% da NATO”. “Isto também poderá induzir tensões políticas adicionais”, sendo que as regras orçamentais europeias também terão de ser respeitadas, conclui.
O republicano Donald Trump foi eleito o 47.º Presidente dos Estados Unidos, tendo superado os 270 votos necessários no colégio eleitoral, quando ainda decorre o apuramento dos resultados. O Partido Republicano recuperou ainda o Senado (câmara alta da Congresso) ao ultrapassar a fasquia de 51 eleitos, enquanto na Câmara dos Representantes (câmara baixa) os últimos dados indicam que se encontra igualmente na frente no apuramento, com 210 mandatos, a apenas oito da maioria.
Rússia duvida de promessa de paz rápida feita por Donald Trump
O vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros classificou como retórica a promessa do Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de acabar rapidamente com a guerra na Ucrânia. “Se houver algum sinal por parte dos EUA de que têm ideias sobre como avançar para uma solução, sem continuar a apoiar o regime de Kiev com todo o tipo de assistência para alcançar a derrota estratégica de Moscovo, então faremos certamente o nosso melhor para analisar e dar uma resposta”, disse o vice-ministro Sergei Ryabkov. O governante disse que a Rússia está disponível para ouvir futuras propostas do Presidente eleito para pôr fim à guerra na Ucrânia, mas já avisou Trump de que não há “solução fácil” sem o fim da ajuda militar a Kiev. Em declarações à agência noticiosa russa Interfax, Ryabkov admitiu que as relações entre os EUA e a Rússia mantêm canais abertos de diálogo, apesar das posições distantes dos dois governos actuais. “Periodicamente, trocamos certos sinais através de canais fechados com diferentes graus de intensidade, dependendo da necessidade, mas tudo está a funcionar corretamente, não podemos dizer que as linhas de comunicação tenham sido cortadas”, explicou. Ryabkov pediu “açcões” à segunda administração Trump e demonstrou algum cepticismo em relação às promessas do magnata norte-americano. “Conhecemo-lo da sua anterior corrida ao poder e acreditamos que algumas das suas promessas, em que falou de uma rápida resolução da situação na Ucrânia, não passam de retórica”, disse o vice-ministro. “É claro que não pode haver uma solução simples para este problema ou para os problemas associados ao que está a acontecer na Ucrânia e nos seus arredores”, disse o governante, acrescentando que Moscovo só aceita o fim da guerra nos seus próprios termos. “A administração americana deve levar estes sinais muito a sério, tanto a administração cessante como a futura. Não há oportunismo aqui e os nossos interesses não dependem de quem ocupa a Sala Oval da Casa Branca”, concluiu. Ao longo da campanha e já depois de ter sido eleito, Trump tem afirmado que irá conseguir rapidamente a paz na Ucrânia, país invadido pela Rússia em larga escala em 2022, sem explicar como. As autoridades judiciais norte-americanas apontaram, por diversas vezes, sinais de ligação da campanha de Donald Trump ao regime russo de Putin e o líder russo já disse que preferia ver na Casa Branca o milionário.
Joe Biden vai receber Donald Trump na Casa Branca na quarta-feira
O presidente norte-americano, Joe Biden, vai receber Donald Trump, que lhe sucederá em Janeiro na Casa Branca, na quarta-feira, às 16:00 locais, no Salão Oval, anunciou a sua porta-voz Karine Jean-Pierre. Joe Biden prometeu na quinta-feira garantir uma transferência de poder “pacífica e ordenada” com o republicano Donald Trump, que obteve uma vitória clara na terça-feira contra a democrata Kamala Harris. O encontro servirá para preparar a chegada da próxima administração Trump, na qual figuras como o empresário Elon Musk ou Robert F. Kennedy Jr. poderão desempenhar papéis importantes. Esta reunião já tinha sido anunciada, mas sem data específica. Donald Trump, que nunca reconheceu a sua derrota em 2020 e que boicotou a cerimónia de tomada de posse de Joe Biden, disse na quinta-feira estar “ansioso por este encontro” na Casa Branca, segundo a sua equipa. O magnata do imobiliário tem 74 dias para constituir a sua equipa governativa. O republicano fez na quinta-feira a sua primeira grande nomeação: Susie Wiles, arquiteta da sua campanha, será a sua chefe de gabinete, um cargo ultraestratégico que nunca tinha sido ocupado por uma mulher.
Donald Trump vence no Arizona
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, venceu no Arizona, triunfando em todos os estados considerados decisivos na corrida à Casa Branca, de acordo com projeções divulgadas no sábado pela CNN e a Associated Press. O Arizona junta-se aos restantes ‘swing states’ destas eleições – Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Geórgia, Carolina do Norte e Nevada – onde Trump também venceu nas eleições de terça-feira, com 312 votos eleitorais contra os 226 da candidata democrata e vice-presidente, Kamala Harris. Trump inverte assim o resultado obtido no Arizona em 2020, quando o Presidente do país, Joe Biden, venceu por 10.457 votos na batalha eleitoral mais renhida entre os estados desse ano. O Arizona é historicamente de tendência republicana – a vitória de Biden foi a segunda de um candidato democrata nos últimos 28 anos – mas o rápido crescimento da população latina e as divisões no seio dos republicanos nesse estado complicaram a reconquista. Desde a última vitória de Trump no Arizona (2016), o partido Democrata conseguiu eleger a governadora, Katie Hobbs, dois senadores e outros altos cargos estaduais. Tanto Trump como Kamala visitaram a fronteira entre este estado e o vizinho México durante a campanha para tentar angariar eleitores.