A presidente da Comissão Europeia defendeu que a União Europeia “tem de ser muito clara” com o futuro Presidente norte-americano quanto à aliança da Rússia com Pequim, Teerão e Pyongyang, para convencê-lo a manter o apoio à Ucrânia.
“A Rússia não é apenas um país autocrático que está a ameaçar as democracias, está também a aliar-se cada vez mais a outros países, como o Irão, a Coreia do Norte e a China, para alimentar essa guerra [na Ucrânia] – e penso que este é um argumento em que temos de ser muito claros com os nossos amigos norte-americanos”, sublinhou Ursula von der Leyen, na conferência de imprensa após a cimeira informal dos líderes europeus realizada em Budapeste.
A responsável da UE referiu que a Rússia está a utilizar tecnologia chinesa e iraniana na Ucrânia, “o que mostra que a segurança na região do Indo-Pacífico e na Europa estão interligadas e, por isso, os europeus e os Estados Unidos também têm interesse em discutir este assunto”. “O que considero mais importante que discutamos com os nossos amigos norte-americanos é o facto de a Rússia não ser só uma ameaça para a Europa, mas uma ameaça para a segurança global”, frisou.
Von der Leyen sustentou, além disso, que os parceiros do G7 (grupo das sete economias mais industrializadas do mundo + UE) têm “uma divisão justa” do dinheiro com que cada um contribuirá para o empréstimo à Ucrânia: a UE com 20.000 milhões de dólares (18.600 milhões de euros), os Estados Unidos – segundo decidiu o atual Governo – com 20.000 milhões de dólares e o Reino Unido, o Canadá e o Japão com o restante, até se atingir os 50.000 milhões de dólares.
Aos argumentos de Von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, acrescentou que, perante o Presidente russo, Vladimir Putin, não se pode mostrar “vulnerabilidade”. “Estou absolutamente convicto de que, se transmitirmos ao Kremlin a mensagem de que somos fracos e se não compreendermos que fortalecer a Ucrânia é fortalecermo-nos a nós próprios, estaremos a transmitir a mensagem errada a outros regimes do mundo, que se sentirão tentados a violar a ordem internacional”, afirmou Charles Michel.
O presidente do Conselho Europeu, que terminará o seu mandato a 1 de Dezembro, considerou que a UE tem “fortes argumentos” para “dar os passos necessários” nas próximas semanas e meses para “uma paz justa na Ucrânia, assente nos princípios da Carta das Nações Unidas”.
A presidente da Comissão Europeia indicou igualmente ter proposto ao Presidente eleito norte-americano, Donald Trump, que os Estados Unidos forneçam mais gás natural liquefeito (GNL) à UE, em substituição do gás russo.
Trump ameaçou taxar as importações de produtos europeus para pôr fim aos excedentes comerciais da UE em relação aos Estados Unidos, que constantemente condenou durante a campanha eleitoral. “Em primeiro lugar, penso que é muito importante falarmos uns com os outros, depois [temos de] discutir os nossos interesses comuns e, em seguida, iniciar negociações”, disse von der Leyen, quando questionada sobre como tenciona gerir as relações comerciais com Donald Trump, com quem manteve na quinta-feira uma primeira conversa telefónica. “Os interesses comuns são, por exemplo – e este é um assunto que abordámos ontem, sem verdadeiramente o discutir em profundidade -, tudo o que tem que ver com o GNL. Continuamos a receber muito GNL da Rússia, porque não substituí-lo por GNL norte-americano, que é mais barato para nós e faz baixar os preços da energia?”, perguntou a responsável, na conferência de imprensa após a cimeira europeia em Budapeste.
O assunto poderia ser discutido “em relação ao défice comercial” condenado pelo multimilionário norte-americano, sublinhou.
A União Europeia já aumentou consideravelmente as suas compras de GNL norte-americano desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, mas não conseguiu cortar completamente a ligação energética com Moscovo. Inquirido sobre como reagir perante as ameaças de Donald Trump, o chanceler alemão, Olaf Scholz, insistiu, também ele, no facto de ser possível encontrar áreas de compromisso com Washington. “No fim de contas, o crescimento e a força dos Estados Unidos assentam também no facto de fazerem comércio com o mundo inteiro, e isso tem dois sentidos”, sublinhou. “Desse ponto de vista, penso que existem bases para desenvolvermos uma política comum”, acrescentou Scholz. Lusa