Acolhendo crianças de várias etnias e culturas, a Creche Internacional de São José segue a pedagogia de Reggio Emilia e privilegia as artes e a criatividade.
As crianças têm de aprender a partilhar, mas na Creche Internacional de São José esse conceito vai para além do objecto ou do lanche e estende-se aos materiais de arte ou à forma como as crianças pintam e desenvolvem um projecto em conjunto. É um exemplo, mas que acaba por ser reflexo da pedagogia de Reggio Emilia adoptada por este estabelecimento de ensino, afirma a directora Nair Cardoso.
Antes de trabalhar na Creche Internacional de São José, Nair Cardoso já tinha estado na Escola Internacional de Macau (TIS, na sigla inglesa), como líder pedagógica no infantário, trabalhando também aí muito com arte com crianças dos 4 e 5 anos. “Já aí achei que era muito interessante para aquela fase das crianças, que é muito mais artística, muito mais sensorial, uma linguagem diferente”, diz. Na Creche Internacional de São José, são crianças mais pequenas, dos 1 aos 3 anos, mas a linguagem é também a da expressão artística.
Subsidiado pelo Instituto de Acção Social e criado pela diocese de Macau em 2020, Nair Cardoso refere que o estabelecimento segue as linhas orientadoras do Governo, mas optaram por um modelo de currículo mais flexível. Com muita procura, a directora refere haver muitos pais que são “mais novos e estudaram fora” e, por isso, procuram uma alternativa ao modelo mais convencional.
Linha aberta com os pais
Uma das características que define esta escola é também a interacção maior com os pais, para integrá-los no projecto educativo. “Temos um centro de pais onde respondemos às necessidades destes individualmente”, refere, acrescentando: “E também promovemos muitos workshops para pais e filhos”. Organizam seminários e conversas matinais com os progenitores, para discutir o desenvolvimento da criança ou responder a dúvidas. “É importante essa transparência”, esclarece.
Além do ensino focado nas artes, na brincadeira sensorial e na criatividade, Nair Cardoso destaca ainda o trilinguismo na mesma sala de aula. “Temos funcionários que falam português e peço mesmo que falem português com as crianças, mesmo que elas não entendam, para além de funcionários que falam inglês e cantonês”, refere.
Um passo atrás da China continental
Olhando para o cenário que se vive no sistema de ensino do território, a directora revela que se nota, por exemplo, na China continental uma maior oferta no que toca ao ensino alternativo. “Fomos visitar uma escola fabulosa em Shenzhen, que segue a Reggio Emilia, com crianças até ao P6 e ali as crianças chegam e sentam-se num tapete, têm os cantos de leitura”, diz, a título de exemplo. Na verdade, algo que já tinha visto em Macau, apenas na TIS. “Quando eu entrei, a TIS tinha o canto da leitura — tocava o sino e as crianças tinham 30 minutos para ler, podiam pôr uns headphones e ler ao mesmo tempo, se quisessem”, diz.
No geral, porém, ainda não se vê muito disto no território. “As turmas são muito grandes e, quando queremos um controlo maior, voltamos ao controlo do educador, mas, quando estamos a insistir, as crianças ficam sem motivação própria para aprender”, esclarece.
E, se por um lado, há crianças auto-motivadas, há outras que precisam de diferentes estímulos. “É aí que surgem os miúdos mal-comportados, que precisam de terapia. Falam muito em hiperatividade, mas talvez seja o ensino que não está adaptado aos novos tempos”, destaca.
Com mais de 80 por cento de alunos de Macau ou da China continental, há ainda portugueses, franceses, italianos, russos, taiwaneses e singapurianos a frequentar a Creche Internacional de São José.