Macau está prestes a se tornar no centro de uma nova revolução no basquetebol asiático. Um projecto que esteve em fase embrionária durante os últimos anos, dá início a uma nova fase com maior destaque para Macau, onde a equipa-chave, os Macau Black Bears, se encontram a encabeçar a liga como representantes da sede oficial, onde tudo começou: o Studio City Event Center. Henry Kerins, co-fundador da East Asia Super League, relembra os desafios e aponta para um futuro promissor para a indústria do desporto e do entretenimento no território, em entrevista ao PONTO FINAL.
O basquetebol de alto nível chegou para ficar. Após anos de desenvolvimento, a East Asia Super League, ou Superliga da Ásia Oriental (EASL), aparece como uma “lufada de ar fresco” no desporto local, com os Macau Black Bears a trazerem uma qualidade nunca vista antes e a assumir um papel central como representantes oficiais e anfitriões no Studio City Event Center. Em entrevista ao PONTO FINAL, Henry Kerins reflecte sobre os desafios enfrentados ao longo deste percurso e enfatiza as amplas oportunidades que surgem para a indústria desportiva em Macau, especialmente com a inclusão de clubes de outros países asiáticos e a contratação de atletas estrageiros, prometendo transformar a região num importante polo de basquetebol.
Henry Kerins é um dos co-fundadores e o actual CEO da EASL, uma liga internacional de basquetebol que abrange clubes desde o Japão e Coreia do Sul, às Filipinas e Taiwan, com mais por vir. A EASL, criada como resposta à carência de torneios internacionais de alto nível na região, tem como objectivo promover competições interclubes que reflictam a diversidade e o potencial do basquetebol na Ásia Oriental. A liga foi formalmente lançada em 2023, após o sucesso de vários torneios de pré-temporada realizados entre 2017 e 2019. Para a temporada de 2024-25, anunciou-se a inclusão das equipas dos Hong Kong Eastern e dos Macau Black Bears, aumentando assim a representação da Grande China na competição.
A inclusão destas equipas representa uma oportunidade para que estes territórios se afirmem no cenário do basquetebol asiático. A liga está a preparar-se para uma série de jogos em grandes mercados da Ásia Oriental, com uma forte estratégia de parcerias comerciais e de transmissão, permitindo que um maior número de fãs acompanhe as competições ao vivo, com destaque para Macau, o seu projectado epicentro.
A EASL não apenas promove o basquetebol a nível regional, mas também atrai investimentos significativos e colaborações, consolidando-se como uma das principais ligas de basquetebol do continente. Sobre este percurso, Henry Kerins deixou as suas palavras ao PONTO FINAL.
O que o motivou a criar a Superliga da Ásia Oriental (EASL)?
O meu percurso envolveu sempre os desportos, onde o mercado é enorme e há um grande público. O mesmo mercado também se encontra na Ásia, não apenas no basquetebol e futebol, mas também no golf, basebol, ténis e, inclusive, o online gaming. Através dessa experiência na indústria do desporto, estivemos a tentar perceber onde é que os jovens gastavam o seu tempo, quais áreas davam mais atenção. Nesse sentido, era óbvio que o desporto era uma indústria para se investir. De alguma forma, o mercado estava subdesenvolvido na Ásia, sem algo que unisse as regiões. Nos Estados Unidos temos a NBA (National Basketball Association) e baseado na Europa temos a FIBA (Federação Internacional de Basquetebol). Mesmo com alguns campeonatos regionais e nacionais existentes na Ásia, não existia uma liga que envolvesse todos os países do continente, representado pelas suas melhores equipas nacionais. Portanto, a verdadeira inspiração para fundar a East Asia Super League (EASL) foi mesmo olhar para o todo, o “macro” do que estava já a ocorrer na Ásia e oferecer uma plataforma. E onde começar? Em Macau! O governo tem dado muito apoio ao projecto. Os nossos patrocinadores igualmente. Macau também facilita o acesso às equipas, estando muito centralizado. De uma forma geral, a região tem percebido a nossa “visão” e oferecido o apoio necessário para realizá-lo.
Como é que as regras de competição da EASL se alinham ou diferem das da FIBA e da NBA, e que impacto considera que essas diferenças têm nas equipas e nos jogadores?
Na realidade nós usamos regras da NBA, bem como regras da FIBA, com pequenas diferenças, como quartos de 10 minutos ao invés de 12 minutos. O que tentámos fazer como uma nova entidade no desporto na Ásia é o do tentar uniformizar as diferentes regras do jogo encontradas nos diferentes países asiáticos, numa única versão para todos. Como, por exemplo, respeitar as regras de contratação de jogadores, onde é necessário haver um equilíbrio de jogadores internacionais e locais, sejam eles asiáticos ou naturalizados. Para os Macau Black Bears, já que reconhecemos a política de uma só China, temos dois jogadores importados, um naturalizado e os outros são locais.
Acredita que essas pequenas diferenças nas regras mudam a dinâmica do jogo em si?
Não. O que é preciso é dar valor aos diferentes estilos praticados em locais como a Coreia do Sul, Japão e Taiwan, com campeonatos robustos, e tentar criar um espaço igualitário para os jogadores se expressarem à sua maneira.
Como vê a contribuição da EASL para os talentos e as comunidades locais onde as equipas estão sediadas, em particular em Macau?
Não é preciso ir longe, é só olhar para Macau como exemplo. Se algum jogador quisesse evoluir na sua prática desportiva dentro desta área, precisaria de ir para longe. Mas aqui, agora, temos finalmente uma equipa que oferece uma boa “avenida” de oportunidades a jogadores de Macau, para ampliarem as suas capacidades através da experiência com jogadores internacionais de qualidade, que os farão perceber o nível que podem atingir e assim retornar para Macau para defender a sua casa. Mas esta indústria não é apenas para os jogadores, temos uma equipa de locais a trabalhar em todo o tipo de áreas, desde fisioterapia a marketing e organização de eventos, e é visível que as pessoas estão contentes com isso.
Sendo assim, vê a Liga a contribuir para o crescimento económico das regiões envolvidas?
Não há dúvida alguma. Eu acredito que todo este investimento que Macau está a fazer, e que esperamos que haja mais no futuro, é porque acreditam nos resultados que estão por vir. Ao trazerem todos estes talentos de alto nível e o profissionalismo que representam, todo esse esforço dará grandes frutos a Macau e à região. Esperemos, claro, que o público se envolva mais e participe neste desenvolvimento do desporto. Ao pensarmos nas ligas de basquetebol profissionais, há uma grande diferença, a seguir à NBA, em termos de volume de negócios. A segunda será a Euroleague, e depois há um terceiro nível que inclui ligas como a Associação Chinesa de Basquetebol (CBA), a Liga ACB (Espanha), a NBL da Austrália e a Liga dos Campeões de Basquetebol da Europa. Dado que somos a principal propriedade de basquetebol de clubes na região mais populosa que ama o basquetebol no mundo, acreditamos que temos uma grande oportunidade de nos estabelecermos como a terceira maior, depois da Euroleague.
Que potencialidades vê para a colaboração entre a EASL e as principais organizações mundiais de basquetebol no futuro?
Bem, nós estamos em expansão. Fomos de um campeonato de oito equipas para um de 12. Para a temporada deste ano, passámos a incluir a mais desenvolvida equipa de Macau e os Hong Kong Eastern. Estamos muito focados na Ásia e na indústria que há cá. Há muito trabalho a fazer ainda. Nos outros campeonatos, como a NBA e a FIBA, já está tudo extremamente desenvolvido. Mas acredito que o interesse seja ao contrário, querem muito fazer parte disto, do que se passa por cá. Estamos no mercado mediático mais “quente” do mundo. Sem falar de sermos o maior mercado do basquetebol, é olharmos para o Japão, China ou Filipinas. Dois mil milhões de espectadores à espera de ver o melhor basquetebol.
Que legado espera que a EASL deixe no mundo do basquetebol internacional?
Actualmente há um jogador japonês na NBA, entre poucos outros, com alguma ascendência asiática. Mas não temos jogadores filipinos, de Macau ou Hong Kong. O que espero é dentro de cinco anos, devido à nossa influência no mercado, que mais jogadores de alta qualidade saiam da Ásia para jogarem internacionalmente. Mas também, por outro lado, não temos equipas na Ásia que sejam globalmente reconhecidas como temos nos Estados Unidos da América. O que para mim não faz sentido nenhum. Acredito que, nos próximos 10 anos, equipas asiáticas estejam equiparadas às americanas.
Para a próxima época, quem são, na sua opinião, os favoritos? Os Macau Black Bears têm boas hipóteses de chegar longe?
Bem, este campeonato é muito competitivo, e sempre que tentamos apontar para uma equipa como a favorita, nos últimos anos, acabamos por nunca acertar (risos). Mas, quando olhamos para equipas nacionais, o Japão destaca-se. Foram do 50.º lugar no ranking mundial para 40.º. Derrotaram a França nas olimpíadas. O desenvolvimento do basquetebol lá tem sido muito consistente e dedicado. As equipas que jogam no Japão são das melhores mundialmente e o mercado tem crescido muito. Portanto, diria que qualquer uma das equipas japonesas tem elevadas probabilidades de ganhar. Mesmo assim, talento é talento, e mercados são mercados, tudo pode acontecer. No ano passado havia muitos a acreditar nos Ryukyu Golden Kings, mas quem levou a taça foram os Chiba Jets. Quanto à estreia dos Macau Black Bears, obviamente são uma equipa muito competitiva e surpreenderam todos com uma diferença de quase 20 pontos no último jogo em Taipei. Acredito que tenham uma oportunidade.
Reflectindo sobre o seu percurso até agora, de que é que mais se orgulha no seu trabalho com a EASL?
As pessoas, a equipa e tudo que temos feito em conjunto. São pessoas incríveis. Estou extremamente orgulhoso. O facto de termos contruído pontes, num mundo relativamente conturbado, faz-me sentir que o desporto é um caminho para unir as pessoas, é preciso estar orgulhoso disso.
Se tivesse de escolher uma super-estrela do mundo do basquetebol, do passado ou do presente, quem seria e porquê?
Isso é tão difícil. São tantos e de tantas posições diferentes. Mas tenho que dizer Bill Walton, grande centro, clássico! Dos mais novos e actualmente a jogar? Há tantos, mas vou ter que escolher um jogador da Ásia e esse será o Yuki Togashi, do Japão. Excelente jogador que sai para jogar e cria oportunidades, normalmente faz com que o estádio inteiro esteja por trás a apoiar. Mas muitos talentos ainda vão aparecer!