Pedro Maia
Vitória de Ott Tänak (Hyundai) no Rali da Europa Central mantém o estónio na luta pelo mundial de ralis que será decidido no próximo mês no Japão. Sébastien Ogier (Toyota) deitou tudo a perder com um erro na penúltima classificativa. Thierry Neuville (Hyundai) ainda é o grande favorito à conquista do título.
Tudo em aberto quando falta apenas uma prova para o cair do pano no Campeonato do Mundo de Ralis. A vitória de Ott Tänak no Rali da Europa Central mantém o estónio na corrida pelo mundial, se bem que o colega de equipa na Hyundai, Thierry Neuville, está numa posição privilegiada para selar o seu primeiro campeonato do mundo. O belga chegará ao Japão com 25 pontos de vantagem sobre Tänak. Em teoria é uma vantagem muito confortável. Na prática… tudo pode acontecer nos ralis.
“Vamos ver como será”, sugeriu o habitualmente escasso em palavras Ott Tänak após saborear o champanhe do triunfo.
“Não depende de mim. É o Thierry quem vai decidir. A única coisa que posso fazer é forçar no Japão e tentar amealhar o máximo de pontos. É bom para a equipa uma vez que apenas um piloto da Hyundai é que pode ser campeão. Mas ainda há uma batalha com a Toyota no mundial de construtores”, afirmou mais tarde o estónio.
Neuville até podia ter selado o campeonato no Rali da Europa Central, as coisas estavam bem encaminhadas mas dois erros no sábado, quando liderava a prova, custaram-lhe caro. O piloto da Hyundai, navegado pelo compatriota Martijn Wydaeghe, caiu da primeira para a quarta posição e só subiu aos lugares do pódio na penúltima classificativa, após a saída de estrada violenta e o consequente abandono de Sébastien Ogier.
“Pagámos o preço por um erro que fizemos durante o reconhecimento. A nota que tínhamos para aquela curva era demasiado optimista. Não haveria problema com o piso seco, mas com a estrada escorregadia sim. Restou-nos assumir uma posição mais defensiva até ao final do rali”, explicou Neuville.
O sinuoso asfalto das estreitas estradas da Chéquia, Áustria e Alemanha assistiu a várias trocas de liderança durante o rali que percorreu os três países. Neuville dominou primeiro até às duas incursões pela relva que lhe custaram muito tempo. Seguiram-se Tänak e Ogier com um animado jogo do ‘gato e do rato’. Ambos precisavam de somar o máximo de pontos disponíveis para ameaçarem a posição de Neuville. A acesa batalha entre o estónio e o francês durou até à penúltima especial. Ogier saiu de estrada depois de ter sido surpreendido pela falta de aderência numa curva. Os estragos no Toyota GR Yaris Rally1 obrigaram o oito vezes campeão do mundo a abandonar. A dada altura foi duro ver Ogier ajoelhado, de mãos na cabeça, ao lado do carro.
“Sinto muito, mesmo muito, pela equipa em relação ao que aconteceu hoje. A estrada estava mais escorregadia em relação ao que estava à espera. Não é desculpa, sou eu que estou ao volante e os outros não cometeram o mesmo erro. Estou muito desiludido até porque estava a ser um fim-de-semana muito forte para nós”, desabafou Ogier. É inédito, desde a vitória na Finlândia e o anúncio de que iria cumprir as últimas quatro provas do campeonato para tentar chegar ao nono título, o francês fez asneira atrás de asneira. Foi 16º na Grécia, 36º no Chile, e abandonou o Rali da Europa Central na sequência de um despiste. Logo em ‘casa’, uma vez que Ogier vive em Munique.
Ott Tänak e o co-piloto Martin Järveoja acabaram por ter mais ‘sangue frio’, venceram o rali com 7 segundos de vantagem para a dupla da Toyota Elfyn Evans / Scott Martin. Evans bem tentou forçar o ritmo, mas não revelou andamento suficiente para incomodar Tänak. O galês ainda não venceu qualquer prova este ano, apesar de ter assumido como objectivo a vitória no campeonato, no início do mundial.
Mundial de construtores também se decide nas estradas nipónicas
Quem regressou em alta foi Takamoto Katsuta. O japonês, navegado por Aaron Johnston, foi quarto, o segundo melhor resultado da época após o pódio conseguido no Rali do Quénia. Depois da Toyota o ter deixado de fora do Rali do Chile, Katsuta regressou revigorado, tendo mesmo alcançado o máximo de pontos no ‘Super Domingo’, incluindo a vitória na ‘Wolf Power Stage’. Um resultado que contribuiu para a Toyota encurtar a diferença para a Hyundai no mundial de construtores. O fabricante nipónico soma agora 511 pontos contra os 526 do rival sul-coreano.
Gregoire Munster igualou o melhor resultado da carreira. O luxemburguês, que faz dupla com o belga Louis Louka, levou o seu Ford Puma Rally1 ao quinto lugar, mas só depois de beneficiar dos abandonos de Adrien Fourmaux (Ford), Sami Pajari (Toyota) e Andreas Mikkelsen (Hyundai).
O francês Adrien Fourmaux ainda recuperou seis pontos no ‘Super Domingo’, depois de ter desistido no Sábado, com problemas no diferencial do Puma, que o levaram a várias saídas de estrada.
Sami Pajari também estava a dar boa conta do recado ao volante do Toyota Yaris Rally1, mas capotou já perto do final do rali. Jari-Matti Latvala, patrão de equipa da Toyota, afirmou desde logo que os erros fazem parte da aprendizagem do jovem compatriota.
Já Andreas Mikkelsen teve um fim-de-semana para esquecer. O norueguês provocou sérios estragos no seu Hyundai i20 N Rally1 após embater com violência numa cerca, tendo abandonado no Sábado. No Domingo viu-se a braços com um furo e com problemas no sistema híbrido.
WRC2 também terá desfecho no Japão
No WRC2 a vitória sorriu a Nikolay Gryazin (Citroën C3 Rally2). O russo, que corre com licença búlgara, dominou a prova, com 16,5 segundos de vantagem para o sueco Oliver Solberg (Skoda Fabia RS Rally2). Ainda assim, Solberg não pontuou para o mundial (já atingiu o limite de provas), sendo que também não vai poder fazê-lo no Japão.
Solberg ainda é líder do campeonato e só poderá ser destronado por Sami Pajari. O finlandês vai regressar ao volante de um Toyota GR Yaris Rally2 no Japão, sendo que terá de encurtar os 19 pontos que o separam de Solberg. Difícil, mas não impossível.
Yohan Rossel (Citroën C3 Rally2), que ainda tinha esperanças de chegar ao título, deitou tudo a perder depois de ter acabado o Rali da Europa Central a mais de 15 minutos da liderança, com vários erros à mistura.
O Rali do Japão, onde tudo será decidido, é a última prova do mundial. Vai para a estrada entre 21 e 24 de Novembro.