Com a intensificação da concorrência mundial e os esforços de diversificação em pleno andamento, os resorts integrados de Macau encontram-se numa encruzilhada. Os especialistas do sector salientam a necessidade urgente de Macau se reinventar para salvar a sua liderança na indústria global do jogo e da hospitalidade.
Macau, outrora líder incontestado da indústria global do jogo, está agora a sentir a pressão da concorrência emergente não só na Ásia, como também no resto do mundo. À medida que os países vizinhos intensificam os seus esforços para atrair cada vez mais turistas, os resorts integrados de Macau enfrentam o desafio de se manterem relevantes num mercado cada vez mais competitivo. Este foi o tema central de discussão do mais recente painel da Câmara de Comércio França Macau (FMCC, na sigla inglesa). O painel teve como tema “A Crescente Competição Regional, a Diversificação e o seu Impacto nos Resorts Integrados de Macau” e contou com a presença de Niall Murray, o presidente da Murray International, uma empresa de consultoria especializada em hospitalidade e desenvolvimento de resorts.
Desde a reinvenção de Las Vegas até aos países do Sudeste Asiático, como as Filipinas e Singapura, que estão a dar passos significativos na sua oferta de entretenimento, Macau tem de acelerar o seu próprio jogo para se manter à frente. Singapura, onde se situam dois dos resorts integrados mais bem sucedidos do mundo, o Marina Bay Sands e o Resorts World Sentosa, tornou-se uma referência na forma de combinar o luxo, o entretenimento e as experiências culturais para criar um destino de classe mundial. Nas Filipinas, o Entertainment City, em Manila, é outro concorrente em crescimento, e o Solaire Resort and Casino, um dos maiores empreendimentos na zona, provou também a sua capacidade para atrair visitantes locais e internacionais, gerando receitas significativas. Sobre o tema, Murray deixa o alerta, embora o mercado filipino possa ter começado devagar, desde então ganhou tracção e é agora um dos actores mais importantes na Ásia, o que poderá trazer sérios prejuízos para Macau.
Macau não deixa escondida a sua forte dependência das receitas do jogo, embora os desenvolvimentos recentes mostrem que a região tem avançado na direcção da diversificação. No entanto, esta mudança está ainda na sua fase inicial. Embora Macau tenha feito esforços para incorporar elementos não relacionados com o jogo, tais como as compras, as refeições requintadas e as experiências culturais, estes elementos estão, considera Murray, ainda relativamente subdesenvolvidos em comparação com o que está a acontecer noutros países a redor.
Para Murray é “óbvio”, há uma flagrante necessidade de Macau oferecer mais do que apenas o jogo, já que os resorts integrados em todo o mundo estão agora a posicionar-se como “centros de entretenimento holísticos”. Singapura apostou na solução inovadora de investir em elementos não relacionados com o jogo, como concertos, eventos desportivos e parques temáticos, que ajudaram a atrair um público mais diversificado. Las Vegas forjou uma reinvenção de sucesso, introduzindo novas formas de entretenimento, como os desportos electrónicos e os festivais de música em grande escala, atraindo públicos mais jovens e não jogadores.
O rumo da redenção
Por outro lado, em Macau, embora alguns resorts integrados tenham começado a adoptar novas tecnologias, o ritmo geral de inovação tem sido mais lento do que o dos seus concorrentes e culmina com o transtorno trazido pelo aumento do jogo online e o impacto que este tem começado a ter nos seus casinos mais tradicionais. Com a mudança global para experiências digitais, os resorts da região precisam de considerar a integração de opções de jogo online nas suas ofertas para se manterem competitivos, aconselha Murray. Para Macau se manter competitivo, deve não só acompanhar as tendências globais, mas também ser um líder na introdução de novas experiências que atraiam visitantes de todo o mundo, acrescentou ainda o orador.
Uma preocupação fundamental para Macau é também a sua infraestrutura que, crê Murray, precisa de actualizações significativas para acomodar o fluxo de turistas que a região espera atrair por meio dos seus esforços de diversificação. Há muito que Macau se debate com estrangulamentos no seu sistema de transportes públicos e com um espaço hoteleiro limitado, que tem dificultado a sua capacidade de competir com outros destinos. Entretanto, locais como Singapura e as Filipinas estão a investir na melhoria das infraestruturas para acolher mais visitantes, e particularmente, no desenvolvimento de novos aeroportos e redes de transporte público mais aprimoradas que facilitem a visita e a permanência dos turistas, por mais tempo.
À medida que Macau enfrenta uma pressão crescente dos concorrentes regionais e globais, a questão que fica é como é que a região pode manter a sua vantagem competitiva. Para Murray, a resposta está numa combinação de diversificação, melhoria das infra-estruturas e inovação. O tempo é essencial. Com novos resorts integrados a serem construídas na Ásia e no Médio Oriente, Macau tem de agir rapidamente para enfrentar os seus desafios e capitalizar os seus pontos fortes. A capacidade da região para se adaptar a estas novas realidades do mercado determinará o seu futuro num campo cada vez mais concorrido.
Ainda assim, Murray defende que Macau tem o potencial para ser mais do que apenas um destino de jogo. A história, a cultura e a mistura única de influências portuguesas e chinesas devem ser aproveitadas para atrair turistas que procuram mais do que apenas casinos. De acordo com o especialista, com a estratégia correcta, Macau pode indubitavelmente manter-se à frente nesta corrida.
G.S.