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      Satélites desenvolvidos em Macau vão ajudar na previsão de tufões e viagens espaciais

      A previsão de tufões através da análise de relâmpagos vistos do espaço seria uma das várias funções previstas para os dois satélites desenvolvidos no Laboratório de Ciências Lunares e Planetárias da Universidade Politécnica de Macau que foram postos em órbita o ano passado. Este foi um dos temas da palestra apresentada no Sofitel pelo professor Zong Qiugang a convite da Câmara de Comércio França Macau para o seu programa mensal de pequenos-almoços educativos.

       

      Turismo espacial e previsão de ciclones tropicais são dois dos muitos assuntos apresentados pelo físico Zong Qiugang, numa das manhãs de palestras e pequenos-almoços organizados mensalmente pela Câmara de Comércio França Macau (CCFM) no Hotel Sofitel. O evento, que contou também com a coorganização da Câmara de Comércio do Canadá em Macau (CanCham), discutiu principalmente as funções práticas dos dois satélites desenvolvidos com apoio de cientistas em Macau, e a contribuição que os resultados provenientes destas pesquisas podem ter na inovação da tecnologia do mercado, principalmente no contínuo melhoramento da comunicação digital, através da leitura de possíveis anomalias no campo geomagnético da terra.

      Em Maio do ano passado foram lançados os dois primeiros satélites desenvolvidos em Macau, numa colaboração entre o Laboratório de Ciências Lunares e Planetárias da Universidade Politécnica de Macau (SKLPlanets/MUST) e o Governo central. As fuselagens dos dois pequenos satélites foram desenhadas e contruídas pela Academia de Tecnologia Espacial de Pequim, enquanto a MUST ficou encarregue de projectar o equipamento científico dos satélites, incluindo um magnetómetro de campo vectorial, um espectrómetro electrónico energético e um detector de raios X solar.

      A plataforma localizada no Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no deserto do Gobi, a noroeste do interior da China, tem sido palco para o programa chinês de exploração espacial denominado “Longa Marcha”, que desde o seu início, em 1956, já conta com mais de 500 lançamentos. Num desses foguetes, debaixo da sigla LM2C, no dia 21 de Março do ano passado, foram projectados em direcção ao espaço um par de satélites dourados com letras impressas na superfície onde se podia ler “Macau Science 1”. Um evento inédito para este pequeno território e grupo de cientistas locais responsáveis pelo feito, marcando a 474.ª missão espacial realizada no interior da China.

      Com tamanhos diferentes e posicionados com extrema precisão sobre a parte sul do oceano Atlântico, flutuam a 400 e 500 quilómetros de altura, quase perfeitamente paralelos ao equador e em sintonia com a rotação do planeta. Um feito que exige uma alta eficiência nos cálculos e são considerados os primeiros satélites deste tipo a serem postos a orbitar nesta posição.

      O professor Zong Qiugang diz que a principal função dos satélites é de analisar as anomalias no campo magnético da terra, que emanam de uma vasta área a sul do oceano Atlântico, mais precisamente a alguns quilómetros da costa brasileira, na chamada South Atlantic Anomaly (SAA). Os resultados averiguados apresentam uma baixíssima força no campo geomagnético, o que cria uma intensificação na actividade radioactiva do local, que é maior do que em qualquer outra parte do planeta. Segundo Qiugang, estes estudos científicos seriam de extrema importância para se compreender o comportamento dos mantos terrestres, que são responsáveis pela força gravitacional da terra e precisam ser constantemente observados devido à sua instabilidade, que pode assim afectar o funcionamento de aeronaves e satélites, indispensáveis na comunicação global e no funcionamento de tecnologias de geolocalização.

      Membros da CanCham e da CCFM procuraram saber mais sobre as aplicações práticas e económicas deste tipo de estúdio científico, por onde Zong Qiugang começou por dizer, com humor, que “todo o conhecimento é importante”. Para além do valor didático e contribuição científica que estes satélites podem trazer, Qiugang destacou durante a sua palestra uma outra face da qual, actualmente, estes projectos têm recebido grande destaque: a viagem espacial turística.

      Com o desenvolvimento mais aprofundado dos departamentos científicos ligados ao estudo da astronomia e tecnologia espacial em Macau, será mais fácil no futuro desenvolver um programa de visita turística ao espaço e não só reduzir os preços por indivíduo, bem como destacar Macau no mercado da viagem espacial, aproximando o território às actividades desenvolvidas no programa espacial chinês, numa parceria com o interior da China que pretende solidificar-se cada vez mais. Com o Centro de Lançamento Espacial de Wenchang localizado a 500 quilómetros a sul de Macau, seria provavelmente uma das alternativas, como ponto de partida, para a exploração da gravidade zero por quem tivesse interesse, disse Qiugang.

      Outra função importante deste recente progresso na ciência espacial, encabeçado pelo SKLPlanets da MUST, seria na previsão de tufões com mais precisão, através da análise de anomalias no clima espacial. Os equipamentos a bordo dos satélites, como o espectrómetro electrónico energético, podem funcionar na detecção de variações eléctricas como as encontradas em relâmpagos durante as tempestades tropicais e facilitam na projecção dos possíveis percursos dos tufões antes que afectem áreas habitadas.

      Zong Qiugang concluiu, em resposta a uma pergunta feita por Rutger Verschuren, presidente da FMCC, que a leitura realizada por estes satélites das profundas camadas do sistema terrestre do Atlântico Sul poderá fornecer indispensável informação sobre os recursos minerais encontrados na costa brasileira, e que o aperfeiçoamento desta tecnologia ainda possa ser de grande valor para as crises energéticas que estão por chegar.