A Polícia Judiciária enviou no mês passado uma equipa de investigação ao México para salvar uma residente de Macau que terá sido burlada através do telefone, vendo-se obrigada a fugir para o estrangeiro após ter sido ameaçada. A jovem terá perdido 3,5 milhões de renminbis no esquema e viajou por cinco regiões e países, acabando por ser encontrada pela polícia numa zona remota no México. As autoridades policiais voltaram a alertar para o aumento das burlas e anunciaram ontem a inauguração de uma aplicação anti-fraude no WeChat.
Uma jovem residente de Macau terá sido vítima de burla telefónica praticada por indivíduos que se fizeram passar por agentes da polícia do interior da China, obrigando-a a deixar o território e esconder-se no estrangeiro para “evitar ser apanhada e morta”. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), a jovem viajou por cinco países e regiões ao longo de duas semanas e foi encontrada no México.
O caso foi revelado ontem pelo director da PJ, Sit Chong Meng, durante uma conferência de imprensa sobre o lançamento de uma aplicação anti-burla. As autoridades ainda estão a investigar o caso de burla, e indicaram ter recebido a queixa apresentada pelo pai da vítima no dia 17 do mês passado, na sequência do desaparecimento da sua filha.
Segundo apurou a polícia, a residente deixou Macau a 14 de Março depois de receber chamadas relacionadas com a burla. “Os burlões alegaram que a vítima estava envolvida num caso de lavagem de dinheiro, e que o caso causou a morte de várias pessoas lesadas. A residente foi obrigada a fugir de Macau e a esconder-se, devendo ainda passar por vários locais para evitar a vingança dos familiares das vítimas. Exigiram ainda à residente que pedisse dinheiro, com recurso a diversas desculpas, aos pais e amigos”, detalhou.
Acreditando nos alegados “agentes da polícia do interior da China”, a jovem foi convencida a pagar o dinheiro de forma a “provar a sua inocência” em relação à acusação da lavagem de dinheiro, tendo assim efectuado transferências para várias contas bancárias, num valor total de 3,5 milhões de renminbis.
A PJ, de forma a encontrar a residente, recorreu à ajuda da Interpol, do Ministério de Negócios Estrangeiros da China, das autoridades policiais do Continente e do México, tendo organizado uma equipa de investigação para viajar para o México e salvar a jovem. “Demorámos alguns dias no México para encontrar a residente, que estava nessa altura numa zona afastada da cidade”, frisou Sit Chong Meng, destacando que é urgente reforçar a sensibilização contra burlas em Macau, uma vez que “além das perdas de bens, a protecção da segurança pessoal do público é também bastante importante”.
LANÇADA APLICAÇÃO ANTI-BURLA
A PJ anunciou ontem a entrada em funcionamento do “Miniprograma antiburla” no WeChat. O público pode aceder ao programa por meio da conta oficial da PJ no WeChat (PJ_Macao) e os utilizadores não têm necessidade de instalar outros aplicativos, nem de inserir o seu número de telefone e dados pessoais.
Sit Chong Meng descreveu que o programa é “uma das principais iniciativas de acção antifraude da polícia”, justificando que utilizar o WeChat está em conformidade com os hábitos de utilização dos residentes locais e dos turistas. O director da PJ espera que a medida possa “ajudar os cidadãos a melhorar a sua capacidade de identificar burlas e que fiquem mais em alerta contra burlas, reduzindo o risco de serem burlados”.
O miniprograma tem quatro funções: fazer pesquisas no âmbito das burlas, dar pistas sobre as burlas, saber mais sobre burlas e identificar casos de burla. Segundo a apresentação da PJ, o público pode inserir o número da chamada recebida, emails, bancos e contas duvidosas, para obter resultados da avaliação de riscos de burla. No entanto, a análise é feita pela base de dados da PJ dos telefonemas suspeitos e denunciados, pelo que o “risco baixo” da análise não significa risco nulo, esclareceu a PJ. Na aplicação, os utilizadores podem ainda denunciar esquemas fraudulentos, fornecendo à polícia pistas sobre suspeitas de envolvimento em casos de burla, ajudando no alerta prévio e na análise das tendências desses crimes. O sistema angariou 170.000 dados até ao momento.
SEM SINAL DE ABRANDAMENTO
A PJ admitiu ontem que os casos de burla continuam a disparar em Macau, enquanto o número de vítimas estudantes e jovens aumentou ainda mais do que no ano passado. Entre Janeiro e Fevereiro, foram instaurados 81 inquéritos sobre fraudes telefónicos, envolvendo um montante estimado de 55,69 milhões de patacas. Entre estes, 36 casos (44%) lesaram estudantes, com um prejuízo de cerca de 24,2 milhões de patacas (43%). No que diz respeito à burla online, 126 inquéritos foram instaurados nos primeiros dois meses do ano, que terão causado uma perda total estimada de 14,88 milhões de patacas. Entre o total, 43 casos (34%) envolveram estudantes e o prejuízo ascendeu a 1,48 milhões de patacas (10%).