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      CPM organiza workshops gratuitos de Escrita Criativa em Português para jovens e adultos

       

      A partir de sábado, dia 25, a sede da Casa de Portugal de Macau vai receber crianças, adolescentes e adultos que pretendam trabalhar a palavra escrita de formas criativas e diferentes. Os docentes Lia d’Alte, Pedro d’Alte e Paula Pinto vão munidos de poesia ‘nonsense’ e jogos de ‘palavra-puxa-palavra’, ferramentas que dizem ser ideais para desenvolver a plasticidade e motivar estes públicos para a produção escrita em Português.

       

      Foi a convite da Casa de Portugal em Macau (CPM) que os três professores da Escola Portuguesa de Macau (EPM) foram “recrutados” para esta “operação de charme” aos escritores em potência na RAEM que, confessam, são difíceis de encontrar. Ao PONTO FINAL, a professora do 1.º ciclo, Lia d’Alte, falou-nos de uma grande falta de textos narrativos escritos em Macau especificamente para as crianças de Macau, e o seu parceiro de trabalho e de vida Pedro d’Alte também não deu um diagnóstico muito reconfortante: “Enquanto não existir literatura para crianças eu vou ter sempre muita dificuldade em ver como outra literatura possa imergir”. Mas a professora reconhece que “é preciso começar por algum lado”, e que a iniciativa da CPM e “workshops semelhantes são de facto pertinentes para incutir o gosto e o prazer pela escrita e pela leitura”.

      Organizadas em três grupos distintos, as sessões gratuitas podem ser feitas de forma isolada, e não pressupõem uma frequência em todas as datas agendadas. O grupo das crianças entre os 7 e 10 anos vai ser orientado por Lia d’Alte, com a primeira ronda a decorrer nas manhãs dos próximos sábados, 25 de Novembro e 2 de Dezembro. As vagas, essas, já estão preenchidas, e até têm inscrições em lista de espera. É que os mais pequeninos, brincou a professora, não têm vidas “tão ocupadas” como as dos jovens do grupo seguinte, dos 11 aos 15, que estarão sob responsabilidade de Pedro d’Alte. A ideia é, garante, que esta actividade não seja um “prolongamento da escola” – “seria aborrecido estar a fazer um pouco mais do mesmo”. A iniciativa passa mais por exercícios lúdicos que consigam “agarrar o público, motivá-los para a escrita, e tentar ampliar um bocadinho o vocabulário e trabalhá-lo. Criar ali alguma dinâmica, de certa forma”.

      Pedro d’Alte acrescentou que é preciso desconstruir a ideia que temos sobre o campo de operação da escrita criativa. “Temos a ideia que a escrita criativa é só escrever, mas a escrita é subsidiária. É importante que o público tome o contacto com textos igualmente criativos com outras formas de desconstruir o significado, porque isso também os inspira. Podem existir momentos em que estamos a ler poesia ‘nonsense’, ou a apresentar actividades plásticas ‘nonsense’, e isso vai permitir dar ideias, convocar saberes para eles terem mais sucesso na escrita”.

      As sessões para jovens, que também irão decorrer nas duas manhãs de sábado, têm uma duração prevista de 2 horas, ligeiramente mais prolongada que a das crianças, já que “os mais velhos conseguem aprofundar, conseguem rever o texto, e acrescentar ideias a partir de algum feedback”, ao passo que com os mais novos “isso não costuma acontecer”, já que estes “fazem sempre umas correcções muito básicas, para tentar despachar o trabalho e depois ficam por ali”, admitiu Pedro d’Alte.

      Mas esta particularidade não detém os organizadores destes workshops, que têm experiência nos dois tipos de público. Daí ser “mais pertinente ter actividades mais diversificadas e mais curtas quando as crianças são mais novas”, acrescentou. Os mais velhos, esses, já são capazes de reflexões meta-textuais, reflectindo sobre aquilo que escrevem, e reescrevendo a partir de indicações.

      Quanto aos adultos, Paula Pinto tem como objectivos lançar o desafio aos participantes e “provar que escrever pode ser algo muito divertido” também para eles. “Vou trabalhar com o inesperado e o inusitado e apelar à criatividade” e “ajudar cada um a deixar voar as asas da imaginação que tem dentro de si”, partilhou de forma positiva. As sessões para os mais velhos, a partir dos 16 anos, estão previstas para decorrer mais tarde, ao fim do dia, nos dias 30 de Novembro e 7 de Dezembro entre as 18h30 e 21h30.

      Sair fora dos cânones da produção de escrita é, aliás, uma linha comum entre os três grupos, e não haverá qualquer pressão a que se tenha de escrever uma história em particular. “A escrita criativa pressupõe a partir de um código padronizado desvirtuar esse código de modo a que se consiga criar algo que as pessoas gostem. Ou seja, não é só em termos de produção, mas também em termos de recepção”, mencionou Pedro d’Alte. Nas sessões, “podemos começar, por exemplo, com actividades de palavra-puxa-palavra, fazer um aquecimento, em que um diz uma palavra, e outro tem de dizer outra palavra que, por exemplo, termina com a mesma letra. Fazemos pequenos grupos de palavras e depois com essas palavras, escolhemos uma e vamos juntando pequenos apontamentos na letra U ou A, de forma a criar uma ilustração para essa palavra, mas dentro das próprias letras”, descreveu.

       

      ESCRITA COM AMBIÇÃO

       

      Para além deste trabalho da plasticidade e desenvolvimento do vocabulário, fica também a ambição de que escrita literária em Macau aumente. “É um campo em expansão”, colocou Lia d’Alte em perspectiva. Tomando como exemplo o seu local de trabalho, diz que a EPM tem alunos ‘fortíssimos”, e é “bastante competitiva, comparando com os resultados das escolas portuguesas em Portugal”. Contudo, admite, “estamos a falar de números”, uma análise científica que, como corrobora Pedro d’Alte, muitas vezes não basta para explicar os factores que levaram ao surgimento de novos escritores. “A escrita literária não está muitas vezes relacionada com competência académica. Está relacionada com o gosto, com a vontade de escrever, e com o facto de ter alguma coisa para contar”, acrescentou. “É algo tão pessoal. Estou a pensar no maior escritor de Timor, que estudou Silvicultura. Às vezes as coisas não são assim tão lineares quanto isso”. O importante é as pessoas “terem coisas para contar”. Daí a urgência em “começar a aparecer literatura para crianças, que Macau não tem”, alertou.

      Lia d’Alte, por seu turno, revelou que quando organiza o conteúdo para os trabalhos de casa dos seus alunos, se vê muitas vezes obrigada a ser ela própria a escrever textos, já que na cidade “não há nada que seja especificamente feito para crianças. Estamos a falar da promoção da cultura, da literatura para o público infantil. Não há, e temos de ser nós a criar”.

      Os Workshops de Escrita Criativa em Português têm o patrocínio da Fundação Macau e decorrem na sede da CPM, no nº. 28 da Rua Pedro Nolasco da Silva, com vagas limitadas a 10 pessoas por turma. Inscrições podem ser feitas através do email ou através do telefone 28726828.