Já é uma iniciativa regular da Casa de Portugal em Macau: o Festival de Marionetas na Casa Garden, que este fim de semana conta com a prestação dos veteranos Elisa Vilaça e Sérgio Rolo e também da Companhia de Teatro Árvore Velha e Graciosa, de Macau.
Este sábado e domingo à tarde, entre as 14h30 e 16h30, os jardins da Casa Garden vão voltar a acolher mais um Festival de Marionetas da Casa de Portugal em Macau. Miúdos e graúdos amantes da arte das marionetas vão poder assistir a quatro actuações distintas pelas mãos de Elisa Vilaça e Sérgio Rolo, colaboradores de longa data da Casa de Portugal (CPM), mas também pela Companhia de Teatro Árvore Velha e Graciosa, que colabora pela terceira vez no festival. Também estão previstas algumas surpresas musicais, com concertos e pinturas faciais, em complemento às actuações agendadas.
Ao PONTO FINAL, Sérgio Rolo falou do espectáculo que leva ao espaço da Fundação Oriente. “O ‘Mini-Mini-Mini Circus’ é uma alegoria ao circo em que há um apresentador assim meio apalhaçado que vai apresentando uma série de peripécias e números das nossas marionetas”. Inteiramente concebido e encenado por si, conta também com sonoplastia da sua autoria, para além de, claro, a sua prestação como actor. “Há uma componente de actor muito forte que eu desempenho no espectáculo”, esclareceu, acrescentando que este “Mini-Mini-Mini Circus” é transversal, e envolve música, dança, marionetas, e teatro”, uma multiplicidade que considera interessante mostrar às crianças que “precisam sim, de dar largas à imaginação”. É talvez por isso, confessou, que Sérgio Rolo não gosta, pelo menos no caso desta criação específica, de se restringir com a necessidade de contar “uma historinha do início até ao fim”. “Gosto de deixar imagens soltas, e depois cada um constrói o espectáculo à sua maneira na sua cabeça. Uns tiram umas conclusões, outros outras, e é giro ver a mistura de ideias de cada um, e quando se ouve os miúdos a trocar ideias”. Esclarecendo que o espectáculo tem estado guardado à espera de uma oportunidade de voltar a ser apresentado, o criativo acrescentou que “temos sempre meninos novos a chegar a Macau, e meninos que agora estão na idade de o ver”, e que achou por bem fazer de novo esta apresentação.
Voltando atrás no tempo, Sérgio Rolo recordou o início da sua experiência em Macau, em 2011, altura em que trouxe o espectáculo “Jardim Jasmim” ao Festival Fringe. “Na altura fiz um périplo por uma série de escolas chinesas e era engraçado ver que não havia este tipo de expressão artística em Macau, pelo menos do que me apercebi. Foi giro começar a desbravar um bocado terreno nessa altura e apresentar uma série de espectáculos que ao longo dos anos fui fazendo cá”.
MARIONETAS SEM BARREIRAS
Outra das conhecidas figuras em Macau na comunidade portuguesa que muito tem feito pela divulgação da tradição das marionetas é Elisa Vilaça, que também participa neste festival com “O Rouxinol”, um espectáculo baseado no conto do mesmo nome de Hans Christian Andersen. Na sinopse pode-se ler que “’O Rouxinol’ pretende mostrar a capacidade de leitura transversa e multicultural que o teatro de marionetas nos proporciona”, cruzando tradição com modernidade. É por isso que o texto da actuação é em inglês e português, e é acompanhado de canções de música clássica, fado e música chinesa. A história do “Rouxinol” passa-se na China Imperial, com as marionetas trajadas com vestuário tradicional que são manipuladas através da técnica de manipulação directa, esclareceu ainda a organização.
Numa colaboração que já tem vindo a ser repetida em duas edições prévias do festival, a Companhia de Teatro Árvore Velha e Graciosa leva duas actuações distintas à edição deste ano: “Casa de Chá Chow” e “Nezha”. Este último espectáculo, indicou a organização, recorre a marionetas de vara e marionetas de sombra, património cultural imaterial da China. Os bonecos de estilo ocidental incorporam modelagem e impressão 3D e outras técnicas “inovadoras”, assim como música e dança contemporânea, convidando o público ainda a um “exercício filosófico” no decorrer da actuação.
Em representação do grupo performativo, Cristiano Chong partilhou com o PONTO FINAL a sua satisfação em ver os espectáculos incluídos no festival. “Lembro-me de quando a Diana Soeiro partilhou pela primeira vez a sua ideia de apresentar espectáculos de marionetas locais no festival; foi uma excelente oportunidade para mostrarmos a arte local de marionetas chinesas a um público predominantemente português”, recordou. Cristiano Chong considera ainda que o evento é uma excelente oportunidade de interacção com outros artistas “como a Elisa, o Sérgio e alguns outros amigos do teatro português”, revelando vontade de “participar em discussões e partilhar diferentes abordagens à narração de histórias, à estética e à arte de criar marionetas”.
O responsável disse ainda que aprecia muito a interacção com o público durante e após os espectáculos, e que tanto as crianças como os adultos têm curiosidade em conhecer os movimentos das marionetas e a arte envolvida. “O nosso objectivo é despertar o interesse de todos e criar uma comunidade que promova artistas, actores, marionetistas e criadores de teatro talentosos”, partilhou. “Através do teatro de marionetas, conseguimos ultrapassar as barreiras linguísticas e comunicar eficazmente com o nosso público”, vincou. “Os nossos marionetistas manipulam habilmente as marionetas e os adereços, utilizando o som, o movimento e as expressões para transmitir a história aos espectadores, independentemente de falarem português, chinês ou qualquer outra língua. Esta é a magia do teatro e das artes performativas – a capacidade de partilhar momentos e criar uma atmosfera envolvente com o nosso público durante cada espectáculo”.