Cenas urbanas ou campestres de figuras amistosas em cafés, a passear pelas ruas, ou deitadas na relva, fazem parte do imaginário estético de Yang Sio Maan, uma jovem ilustradora de Macau que tem colaborado com diversas instituições públicas e privadas em Macau, Hong Kong e internacionalmente. Depois de duas exposições a solo na Creative Macau e no Armazém do Boi, a artista prepara-se para a sua terceira exposição: Intitulada “Murmurs”, a mostra de trabalhos de ilustração vai estar entre os dias 27 de Setembro e 10 de Novembro no Taipa Village Art Space. Esta será também a ocasião para o lançamento do seu primeiro livro de ilustração, o “Mr. Matos Goes to Buy Tomatoes”, da Fizzy Ink Publishing, uma editora que a própria artista acaba de criar em Macau para dar vasão à sua predileção pelo papel e pela impressão.
Imagens enternecedoras com contornos suaves e figuras calmas preenchem as ilustrações de Yang Sio Maan, artista de Macau que vai ter uma exposição a solo na galeria Art Space. Organizada pela Associação Cultural da Vila da Taipa, a mostra a solo “Murmurs” abre no dia 27 de Setembro e reúne cerca de 19 trabalhos originais da ilustradora, organizada em três séries – uma instalação de pranchas do novo livro de Yang Sio Mann, “Mr. Matos Goes to Buy Tomatoes”, uma colecção de nove ilustrações feitas para a revista de Hong Kong “Poetry & Verse”, e a terceira é relativa a um livro de banda desenhada.
Ao PONTO FINAL, a ilustradora explicou o significado do nome da exposição. “‘Murmurs’ [Murmúrios] é uma palavra que antes de mais me agrada, porque gosto da repetição do som, e também porque considero que encaixa bem com o meu estilo. As minhas pinceladas são muito suaves, e o uso de cor também, e esta palavra está ligada aos temas que eu gosto de explorar: metáforas, e cenas que parecem ser observadas não de frente, mas de lado. Sempre que desenho, parece que o objecto é retratado de uma forma lateral, em vez de ser observado de forma directa, e o sentimento do meu trabalho no geral é um sentimento suave, daí eu ter escolhido o conceito de murmúrios para descrever o meu trabalho”.
Para além de colaborar regularmente com estabelecimentos em Macau e instituições como a Biblioteca de Macau, a Universidade de Macau, ou o Dom Bosco, as suas criações já figuraram em campanhas da Oxfam, e ilustraram revistas e jornais como o The Guardian, World Literature Today, Voice and Verse Poetry Magazine, Fleur des Lettres, Pavilion Books e CKGSB. A jovem partilhou que depois de concluir a licenciatura em língua Inglesa na Universidade de Macau tirou um mestrado em Ilustração na University of Contemporary Arts em Farnhal, na Inglaterra. “Foi uma experiência que me marcou muito, porque me ajudou a construir a minha prática artística, criando bons hábitos que ainda hoje continuo a seguir, quando trabalho nos meus projectos. Eles [na universidade] ajudaram-me a abrir os meus horizontes também em relação a como a ilustração pode ser aplicada em outros contextos, em vez de ser só usada como imagem”, mencionou. “Fizeram-me ter vontade de explorar mais possibilidades visuais”.
Depois de terminar o curso em 2016, Yang Sio Maan voltou para Macau e começou a trabalhar a tempo inteiro, continuando também a desenvolver a sua carreira como ilustradora. “Entretanto, em 2019, deixei esse emprego porque queria concentrar-me na ilustração, e agora estou a trabalhar inteiramente como ilustradora independente”, revelou. Perguntámos à artista se vende muitas impressões através da sua página de Instagram, uma prática muito comum no mundo da ilustração, mas a profissional indicou que não, já que a maior parte dos trabalhos que faz são por comissão. “Não vendo muitas ilustrações, porque a maioria dos meus trabalhos são feitos por comissão e têm direitos exclusivos de quem me pediu para criar essas ilustrações, mas se por vezes houver pessoas que querem comprar algumas séries minhas, eu aceito vendê-las”, admitiu. De resto, estas colaborações pagas são algo que lhe permite ter liberdade para fazer o que gosta. “Por exemplo, a série de nove ilustrações que desenvolvi para uma revista de poesia chamada ‘Voice and Verse’, de Hong Kong, é algo que me orgulho muito de ter feito. Há alguns anos que trabalho com eles, e eles deram-me muita liberdade criativa. Sinto que posso exprimir as minhas emoções e ideias nessas ilustrações sem qualquer restrição”. A jovem tenciona continuar a colaborar com esta e outras revistas e jornais, já que como se formou em Língua Inglesa, e é “apaixonada por literatura e poesia, gostaria muito de continuar a trabalhar nesta área através da ilustração”.
PAIXÃO PELO PAPEL
O trabalho por comissão que Yang Sio Maan habitualmente faz é de ilustração digital, no ‘tablet’ e no computador, mas quando pode, a artista diz que gosta de usar “materiais mais tradicionais, para fazer experiências”. “Quando faço o meu trabalho individual, porque tenho mais tempo e espaço para compor a ilustração, gosto de usar materiais mais tradicionais, de papel e aguarela, mas também colagens de papel, e outros pincéis diferentes. Faço colagens de papel, com texturas diferentes, é uma coisa que gosto muito de fazer, e esta é provavelmente a razão pela qual comecei a desenvolver o trabalho da editora”.
A ilustradora partilhou que acabou de criar uma editora nova, a Fizzy Ink. “Eu quero começar uma empresa que se foque em livros e na qualidade da impressão e do papel, por isso, no ano passado desenvolvi este projecto”. A editora vai publicar agora o mais recente livro da sua autoria, o “Mr. Matos Goes to Buy Tomatoes”, cujas cópias estarão à venda na exposição da Art Space. Sobre o livro, a autora explicou, entre risos, que a escolha do nome Matos foi mais porque queria que rimasse com a palavra ‘tomatoes’. “A história passa-se em Macau, por isso imaginei este senhor como sendo um senhor português que vive em Macau há muitos anos. Ele é um pintor que está a pintar tomates, e depois, não se sentindo muito satisfeito com o seu trabalho, decide ir ao mercado comprar tomates frescos para encontrar nova inspiração, e no percurso acontece-lhe algo extraordinário, e acaba por ficar amigo que de um tomate, e também de um gato! (risos)”.
Apesar da boa disposição, a ilustradora confessou também ao nosso jornal que o seu estilo tem vindo a ficar mais sério e introspectivo. “No passado, tinha mais tendência para temas mais alegres e brincalhões, mas com o tempo, fui explorando, e pensando e tendo mais experiência, e agora tenho uma tendência a escolher elementos mais calmos e suaves, e que encaixam mais com a minha personalidade”, confessou, acrescentando também que o cinema é algo que interage com as suas ilustrações.
Na sua página profissional é possível ver ilustrações do filme “The Shining”, de Stanley Kubrick, ou o recente galardoado “Drive My Car”, de Ryusuke Hamaguchi. “Gosto de usar as ilustrações para documentar os filmes que gosto. Ver filmes foi algo que também me ajudou muito na composição das ilustrações, e das cores”.
“Murmurs”, de Yang Sio Maan, está patente na galeria Art Space no n.º 16-18 da Rua dos Clérigos até dia 10 de Novembro.