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      Início Cultura Mesa-redonda celebra 100 anos de Henrique de Senna Fernandes

      Mesa-redonda celebra 100 anos de Henrique de Senna Fernandes

      Criada no âmbito da Escola de Verão, que está a decorrer na Universidade Politécnica de Macau, o painel abordou a vida e obra do escritor macaense nascido em 1923, debatendo os conflitos interétnicos da sua obra, bem como o estado da arte e as suas evocações. Houve lugar à análise do conto “Os bons fantasmas”, onde o autor aborda o drama insólito ocorrido numa casa assombrada, arrendada pela família em 1942. Foi ainda exibido o filme “A Trança Feiticeira”, de 1996, realizado por Yuanyuan Cai e protagonizado por Ning Jing e Ricardo Carriço.

      O centenário do escritor macaense Henrique de Senna Fernandes foi ontem celebrado com uma mesa-redonda de partilha e discussão acerca da pessoa e da obra do autor que nasceu a 15 de Outubro de 1923 numa iniciativa inserida na Escola de Verão da Universidade Politécnica de Macau (UPM) promovida pela coordenação do Doutoramento em Português da Faculdade de Línguas e Tradução.

      Assim, pelas 15h, os académicos Esperança Chen, Pedro d’Alte, Maria de Lurdes Escaleira e Lola Geraldes Xavier, juntamente com o advogado Miguel de Senna Fernandes, filho do escritor e presidente da Associação dos Macaenses (ADM), abordaram a vida do autor e o seu legado literário com uma discussão desde o estado da arte da sua escrita, passando pelos conflitos interétnicos: representações e resoluções, pelas evocações do autor e ainda uma análise do conto “Os bons fantasmas”, onde o autor aborda o drama insólito ocorrido numa casa assombrada, arrendada pela família em 1942.

      Depois, pelas 17h30, no Anfiteatro 2, houve lugar à exibição do filme “A Trança Feiticeira” baseado no livro com o mesmo nome da autoria de Henrique de Senna Fernandes, obra que, como as outras que produziu, relatam a Macau antiga dos anos de 1930, 1940 e 1950. “A Trança Feiticeira” foi ainda transposta para a tela com uma adaptação para o cinemaescrito pelos “irmãos Cai” Yuanyuan Cai e Anan Cai e realizado apenas pelo primeiro. Foi protagonizado por Ricardo Carriço e Ning Jing, e teve ainda a participação de nomes como Roberto Candeias, Manuel Cavaco, Filomena Gonçalves e Tsing Yi, entre outros.

      A Escola de Verão da UPM promovida pela coordenação do Doutoramento em Português da Faculdade de Línguas e Tradução começou no dia 15 de Maio e decorre até amanhã, quarta-feira, dia 24 de Maio.

      O poeta e professor João de Mancelos, da Universidade da Beira Interior, António Pedro Costa, da Universidade de Aveiro, Alex Han, da Universidade de Língua e Cultura de Pequim, Xu Yixing, da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, Osvaldo Manuel Silvestre da Universidade de Coimbra, e Maria Helena Pistori, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, todos via Zoom (ID da reunião: 96454405458), são alguns dos palestrantes.

      Recorde-se que o Grupo de Estudos de Culturas Ocidentais, Africanas e do Oriente (ECOAdOR) está a preparar um livro que deverá ser publicado em Outubro com a chancela da Praia Grande Edições e terá artigos originais que abordam a vida de Henrique Senna Fernandes que passem pela sua produção romanesca ou contista, bem como pelo diálogo entre o cinema e a literatura na adaptação das suas obras para a grande tela; os imagótipos da época; a representação do quotidiano ou da paisagem; ou outros aspectos pertinentes e associados à vida profissional ou produção estética, linguística e literária do macaense.

      O livro sobre o centenário do escritor terá a direcção da professora universitária Lola Geraldes Xavier e contará com a coordenação do professor Pedro d’Alte. David Brookshaw, Micaela Ramón, Celina Veiga de Oliveira, António Aresta, entre outros, são alguns dos nomes cujos trabalhos académicos vão figurar da obra.

      Henrique de Senna Fernandes nasceu em Macau a 15 de Outubro de 1923, tendo falecido, também no território, a 4 de Outubro de 2010. Foi um de 11 irmãos de uma das mais antigas e ilustres famílias de luso-descendentes de Macau, que se estabeleceu no território há mais de 250 anos. Estudou Direito na Universidade de Coimbra antes de se tornar escritor. A sua obra, escrita em português, evoca o ambiente das décadas de 1930, 1940 e 1950. Muitas vezes centrada na vida de personagens de origens raciais mistas, como o próprio autor, a sua obra representa um ponto de vista único sobre a evolução de Macau durante o século XX.

      Além de escritor, foi também professor e director da Escola Comercial Pedro Nolasco. De 1998 a 2009 foi membro residente da Assembleia Geral do CAM – Aeroporto Internacional de Macau. Enquanto advogado, foi presidente da Associação dos Advogados de Macau de 1991 a 1995. Foi ainda presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), durante o período em que se criou a actual Escola Portuguesa de Macau.

      Em 2006 recebeu a Medalha de Mérito Cultural da RAEM em 2001. Portugal também lhe concedeu honrarias de onde se destacam a de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico, de 1998, e a de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, em 2005. Ainda em vida, recebeu dois doutoramentos honoris causa em literatura pelo Instituto Inter-Universitário de Macau (2006) e pela Universidade de Macau (2008).

      É o autor de “Nam Van – Contos de Macau”, “Amor e Dedinhos de Pé”, “A Trança Feiticeira” e “Mong-Há – Contos de Macau”. Deixou também três outros livros por terminar: “A Noite Nasceu em Dezembro”, “O Pai das Orquídeas” e “Os Dores”. A título póstumo o Instituto Cultural (IC) de Macau lançou o inédito “Os Dores” e reeditou “Amor e Dedinhos de Pé” no âmbito de uma apresentação pública da colecção “Obra Completa de Henrique de Senna Fernandes” que assinalou o 89.º aniversário do nascimento do mais prestigiado escritor macaense. Posteriormente, em 2015, o IC editou “A Noite Desceu em Dezembro”, num lançamento que teve lugar na Academia Jao Tsung-I. Na mesma cerimónia foram igualmente lançadas a nova edição de “A Trança Feiticeira” e a versão chinesa de “Os Dores”.

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      Redacção do Ponto Final Macau