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      Grande Baía, um conceito com três séculos de existência

      Numa conferência online que se vai realizar esta tarde, o historiador Ivo Carneiro de Sousa vai explicar as origens do conceito de Grande Baía de Cantão. Segundo o historiador, a primeira versão da Grande Baía surge em 1700, com Macau a assumir um papel preponderante na geografia comercial.

      Realiza-se hoje, entre pelas 19h, uma conferência online organizada pelo Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa da Universidade Politécnica de Macau (UPM) que tem como título “Macau e a formação histórica da área da Grande Baía (1700-1842): cartografia cultural de um sistema de comércio único”.

      O orador é Ivo Carneiro de Sousa, historiador que se tem dedicado aos estudos sobre Macau. Ao PONTO FINAL, detalhou o tema da palestra, começando por explicar as origens do conceito de Grande Baía: “A conferência destina-se a mostrar que o conceito da Grande Baía existe pelo menos desde 1701, quando é publicado no Dicionário de Geografia Universal. A ligação marítima e comercial entre Macau e Cantão é designada como Grande Baía de Cantão”.

      A Grande Baía da altura era vista, então, como um sistema comercial, categorizada como “economia-mundo”, ou seja, “uma parte do mundo que tem uma economia interna suficientemente desenvolvida para ter uma posição dominante na economia mundial”, explica Ivo Carneiro de Sousa.

      Nesta Grande Baía de Cantão, Macau tinha um papel importante. O historiador começa por falar da “inteligência comercial”, salientando que todos os produtos estrangeiros que entravam no comércio de Cantão eram categorizados e pesados em Macau. “Os produtos eram pesados, avaliados, categorizados e, quando os barcos estrangeiros vinham carregados de chá e seda, esses produtos eram categorizados para o mercado internacional em Macau. Era em Macau que se dava o nome ao produto”, sublinha, acrescentando: “Não era um papel de plataforma, era muito mais especializado, era um papel de inteligência comercial, para que os produtos entrassem no mercado chinês e depois no mercado mundial”.

      Em segundo lugar, Macau oferecia serviços de resolução de conflitos comerciais. O sistema usado pelos comerciantes em Cantão obrigava a que as encomendas fossem feitas com muita antecedência, o que muitas vezes gerava discórdias entre companhias e “esses conflitos resolviam-se em Macau”. “Macau geralmente usava juristas portugueses instalados em Macau e tentava chegar a um acordo entre todas as partes”, conta o historiador. Era, então, um centro de arbitragem? “Era mais do que um centro de arbitragem, porque tinha poderes de julgar e emitir sentença sobre o caso”, responde Ivo Carneiro de Sousa.

      Outra valência de Macau tinha a ver com os serviços de tradução e interpretação escrita e oral:A partir de 1762, quando a Companhia das Índias Orientais começa a dominar este comércio e a trazer ópio e manufacturas e as troca por chá e seda, os comerciantes chineses não conseguem vender essas manufacturas e vão acumulando toneladas de calças, cuecas e meias produzidas pelas grandes indústrias, isso cria problemas e a partir de meados do século XVIII começámos a encontrar em Macau tradutores intérpretes trilingues chinês-português-inglês comercial”.

      Por fim, Ivo Carneiro de Sousa fala sobre a “dimensão da sociabilidade e lazer que Macau oferecia”. “Macau oferecia convívio social elevado com saraus musicais, campeonatos de bilhar e snooker, corridas de cavalo. Criava-se um ambiente que fazia com que os estrangeiros trouxessem as famílias e se instalassem em Macau”, comenta o historiador.

      Na opinião de Ivo Carneiro de Sousa, este formato original de Grande Baía, com os quatro papéis de Macau, é algo que poderia ser replicado actualmente: “Essa experiência era funcional e lucrativa para todas as partes. Na minha modesta opinião, esses aspectos deveriam ser recuperados hoje em dia”.