Foram cerca de 200 chamadas por dia, em contraste à média diária anterior de 30 chamadas diárias, que a linha aberta “Esperança de vida” da Caritas registoudurante os picos iniciais da pandemia, representando um aumento exponencial correspondente a sete ou oito vezes mais. De acordo com a directora dos serviços da linha, alguns daqueles que pediram apoio afirmaramsentir-se como uma “pessoa inútil” e “confundidos” ao serem confrontados com as restrições antiepidémicas impostas pelo Governo.
A linha aberta “Esperança de vida” da Caritas atendeu, durante os picos da situação da pandemia, entre 100 a 200 chamadas de pedidos de ajuda por dia, tendo representado um aumento de sete a oito vezes em comparação com a época normal da Covid-19 em Macau. Nos períodos em Outubro de 2021 e no Verão do ano passado, cujo surto se iniciou a 18 de Junho, o acréscimo dos pedidos de ajuda e aconselhamento psicológico estiveram em destaque, enquanto o número de pedidos diminuiu durante o surto em Dezembro do ano passado, quando a cidade estava já a preparar-se para a reabertura.
“A pandemia provocou diversos períodos de pico. Em termos do número de pedidos de ajuda que recebemos, a diferença entre a época normal e os picos foi de sete a oito vezes. É óbvio que surgiram bastantes mais chamadas. No passado, o nosso serviço recebia trinta e tal chamadas por dia, enquanto nos picos da pandemia o número chegava até 200 pedidos num dia”, adiantou a directora do Serviço da linha “Esperança de vida”, Ng Lai Ieng, da Caritas.
A responsável revelou que o conteúdo dos pedidos de ajuda recebidos estava altamente ligado à pandemia. “Por exemplo, durante o surto em Junho, muitos ficaram confundidos pelas medidas de prevenção epidémica, podendo achar demasiado repentino o lançamento dessas medidas por parte do Governo. Nessa situação, podiam não saber como reagir, e não compreender por que razão foram lançadas essas políticas”, apontou.
Ng Lai Ieng acrescentou que alguns solicitantes de ajuda tinham relatado que as medidas impostas pelo Governo estavam a “provocar perturbações”, sobretudo as tomadas repentinas de acção de isolamento dos prédios habitacionais, confinamento da cidade e encaminhamento de pessoas para quarentena obrigatória.
“Os cidadãos que recorreram à ajuda mostraram-se preocupados com as restrições: como reagir e como lidar com as inconveniências causadas. Sentiram desesperados, questionaram se seriam pessoas inúteis por terem dificuldadesem conseguir cooperar com as medidas, a nível físico e psicológico, por falta de preparação”, explicou.
Sendo as perturbações daqueles que fizeram pedidos de ajuda devido às restrições epidémicas, o número de pedidos na “Esperança de vida” durante o surto de Dezembro do ano passado diminuiu. A análise da equipa da Caritas indica também que a redução de chamadas se deveu ao facto de a maioria dos residentes ter ficado infectada e com grande desconforto físico.
IDOSOS COM MAIS NECESSIDADE DE AJUDA
De acordo com Ng Lai Ieng, os idosos são o grupo principal que mais contacta a linha aberta da Caritas, seguindo-se as mulheres de meia-idade, dado que são as pessoas mais afectadas pela confusão face às informações antiepidémicas. A assistente social enfatizou assim que a sociedade deve prestar mais atenção e apoio aos idosos e cuidadores, que precisam de mais recursos sociais durante a sua vida quotidiana.
Através dos números de telefone 28525222 (chinês) e 2852 5777 (inglês), “muitos idosos telefonaram para perguntar as medidas, bem como falar sobre a sua situação. Sendo um serviço de 24 horas, podemos responder a qualquer hora, de imediato, às dúvidas durante a pandemia”, disse, adiantando que houve mais pais a relatarem dificuldades na comunicação e educação das crianças quando “estavam todos juntos em casa durante os confinamentos”.
Ng Lai Ieng referiu que a situação de pedido de ajuda normalizou recentemente com a reabertura da cidade, mantendo-se em 20 a 30 chamadas por dia, envolvendo problemas emocionais ou até intenções de suicídio. “A situação voltou a ser semelhante com o tempo antes da pandemia”, frisou, à margem de uma sessão coorganizada pela Caritas e pelo Centro de Estudo de Macau da Universidade de Macau, realizada ontem, onde a Caritas partilhou as experiências de trabalho de controlo e prevenção da Covid-19 nos últimos três anos.
Na ocasião, Agnes Lam, directora do Centro de Estudo de Macau, apontou que a Caritas esteve na linha de frente dos serviços sociais durante a pandemia e ajudou os necessitados nos momentos difíceis, esperando que os membros da UM aprendam com experiências que poderão inspirar as suas investigações académicas.
Já Paul Pun, secretário-geral da Caritas Macau, sublinhou que os grupos vulneráveis são os mais afectados e necessitados de serviços sociais durante a pandemia. “A nossa prioridade era manter os serviços existentes de uma forma que não aumentasse a carga da comunidade, ajudando os necessitados tanto quanto possível”, afirmou Paul Pun, garantindo que os membros da Caritas reforçaram a capacidade de resposta a crises, o que ajudará a enfrentar várias situações incertas no futuro.