Três anos após a implementação das restrições relativas à Covid-19 em Macau, o Governo considera que o território possui agora condições para ajustar as políticas antiepidémicas e anunciou a entrada numa nova fase de prevenção e controlo do vírus. As autoridades vão lançar um conjunto de novas medidas, a partir deste fim-de-semana, para lidar com o chamado “período de transição”.
A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, admitiu que está previsto um aumento significativo de casos positivos no futuro próximo em Macau, bem como o surgimento de casos de doença grave e até mortes, estimando que, no final, 50% a 80% da população contrairá o vírus.
Entre as novas medidas, contam-se a distribuição dos kits antiepidémicos à população, permissão de quarentena domiciliária para pessoas de contacto próximo, lançamento de consultas externas comunitárias para infectados, promoção da vacinação e garantia do fornecimento de máscaras e testes rápidos, anunciou a secretária na conferência de imprensa dos Serviços de Saúde de ontem.
A responsável prometeu ainda que serão ajustadas, de acordo com as mais recentes políticas nacionais, as restrições de entrada e saída de Macau destinadas a pessoas oriundas dos países estrangeiros, Hong Kong e Taiwan. Não foram adiantados, na ocasião, mais pormenores sobre medidas concretas e a sua calendarização, mas o Governo acredita que o ajustamento estará para breve. “Vamos seguir a política do Governo Central. Mas, se os trabalhos actuais decorrerem suavemente, acho que não temos de esperar por muito tempo”, assegurou. Macau está a implementar a medida de quarentena de “5+3” para as chegadas do exterior, sendo que agora os três dias de quarentena domiciliária passam do código vermelho para amarelo.
O Executivo pretende também relaxar os requisitos de testagem para indivíduos provenientes da China Continental, tendo sido cancelada a exigência de testes, quer de ácido nucleico quer rápido, após a chegada. Além disso, vai ser reduzida gradualmente a frequência da realização obrigatória de testes de ácido nucleico, passando a adoptar mais os testes rápidos de antigénio.
Na conferência de ontem, Elsie Ao Ieong começou por fazer um balanço positivo sobre os trabalhos antiepidémica de Macau durante os últimos três anos, sendo a taxa de infeçcão relativamente baixa. “Tendo em conta que a actual variante do vírus é mais infecciosa mas fácil recuperar após a infecção, bem como a taxa de vacinação em Macau que ultrapassa 90% da população, temos condições para ajustar as medidas”, referiu.
Apesar de estar preparada para a subida dos casos, Macau vai manter os testes de ácido nucleico para trabalhadores com funções consideradas de alto risco e pessoas de zonas de alto risco, para que a situação pandémica seja controlável e não haja um surto dramático que afecte o funcionamento básico da sociedade, deixando “a comunidade e o sistema médico adaptarem-se às mudanças”.
Elsie Ao Ieong sublinhou que a pandemia trouxe muitos desafios a Macau durante três anos, tendo o Governo feito esforços para proteger o público. “Agora todos nós temos de ser responsáveis pela protecção da saúde de cada um, seguindo em direcção a uma nova vida”, assinalou.
Recorde-se que o Governo Central anunciou dez novas medidas de alívio das restrições epidémicas, permitindo o tratamento e quarentena domiciliária dos infectados e o cancelamento da apresentação do código de saúde em certos locais.
Já Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde, apontou que, a partir de agora, “é permitida uma certa transmissão do vírus na comunidade, com o pressuposto de não afectar o funcionamento da sociedade”. Não se referindo concretamente a uma desistência da política de zero casos, o director afirmou que se vai adoptar um outro modelo de prevenção epidémica, com uma alteração de política. Alvis lo não afastou também a possibilidade de deixar de usar o código de saúde no futuro.
Após o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus emitir ontem as orientações para o isolamento domiciliário de contactos próximos, o Governo assumiu ter planos para quarentenas domiciliárias de infectados, atendendo às suas circunstâncias e sintomas graves ou ligeiros.
Alvis Lo adiantou que, com a actual variante Ómicron, mais de 90% dos infectados terão apenas sintomas leves e podem ser tratados com os medicamentos – de medicina chinesa ou ocidental – que estão nos kits do Governo ou com a consulta externa comunitária, enquanto somente 10% precisarão de apoio médico nos hospitais.
Nesse sentido, no futuro, 90% dos doentes poderão cumprir o período de recuperação em casa, sem necessidade de serem transportados para instalações médicas ou hotéis de quarentena. Segundo revelou o responsável, Macau disponibiliza actualmente 600 camas nos hospitais, seis mil camas nos hotéis de observação médica, 139 ventiladores, 106 médicos e 89 enfermeiros com formação dos cuidados intensivos, sendo “suficientes” para reagir a um surto comunitário.
As autoridades vão lançar na segunda-feira três postos de consulta para infectados na comunidade, incluindo a Policlínica da Federação de Médico e Saúde de Macau, a Federação de Médico e Saúde de Macau do Edifício Ilha Verde e na Rotunda do Estádio na Taipa. Os doentes, no futuro, podem recorrer a uma plataforma de consulta para fazer uma triagem, para o isolamento domiciliar, consulta comunitária e consulta no hospital, respectivamente.
Por outro lado, após apertar as medidas de testagem, por duas vezes, para os funcionários de hotéis, casinos, retalho e do sector médico, passando do teste semanal a teste a cada quatro dias e depois a dois dias, as autoridades ajustaram novamente para um teste a cada três dias, podendo ser de ácido nucleico ou de antigénio.
Por outro lado, a partir de hoje, as visitas aos lares de idosos estão suspensas. O Instituto de Acção Social anunciou que todos os funcionários dos lares terão de fazer dois testes rápidos por dia, quando vão para o trabalho e depois de saírem, apresentando o resultado negativo de teste de ácido nucleico e usado as máscaras de KN95. O director do Instituto de Acção Social (IAS), Hon Wai, voltou ontem a lançar um apelo à vacinação dos idosos, particularmente das doses de reforço.
Os docentes e alunos do ensino não superior vão começar a realizar rondas de teste rápido de antigénio a partir da próxima semana, de acordo com a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, será organizado pelas escolas um teste por semana para o grupo, pelo que cada dia 20% de alunos de cada turma vão receber o rastreio. “Caso o número da infecção entre os alunos seja elevado, vamos considerar a suspensão das aulas em algumas turmas”, frisou Kong Chi Meng, director do organismo.
Já a médica Leong Iek Hou avançou também novas regras para classificação dos edifícios em zonas vermelhas, sendo que a designação de zona vermelha será apenas atribuída à fracção habitacional onde mora o infectado, e apenas passando o prédio com código amarelo se se registarem infecções em mais de 10% do total das unidades habitacionais dentro de cinco dias.