O advogado e fotógrafo João Miguel Barros prepara-se para apresentar o penúltimo número da sua Zine Photo, desta vez dedicado a uma avioneta. “Este número tem como motivo inspiracional um pequeno avião chamado ‘Pipeta Saratoga’ que durante décadas sobrevoou os céus de Cascais e há poucos meses se foi acolher a outras paragens”, escreve o autor no texto que acompanha as fotografias.
A série, publicada a preto e branco, como tem sido apanágio do fotógrafo, revela pormenores de um “pequeno avião” outrora propriedade de um amigo. “Teve-o durante longos anos, mas recentemente deixou de o ter. Tratou dele como se fosse gente, com cuidado e gentilezas. Tinha até nome de pessoa: Pipeta Saratoga. Um nome estranho, é certo, mas os nomes são dados às pessoas, e aos aviões, na esperança de que se revelem únicos na identidade e na relação”, explicou João Miguel Barros, para contextualizar a história à volta da aeronave.
Tal como a fotografia, “os aviões levam as pessoas nos seus sonhos”, “mas também nos seus medos”, considera. “Em especial aquelas que têm receio de voar em passarolas que nunca cresceram o suficiente para ter a dimensão de uma nave espacial”, disse, acrescentando que “os aviões têm ao leme mão humana, quase sempre segura e certeira, mas está neles, e no seu corpo de metal enfeitado de tecnologias sofisticadas, o destino de quem carregam”.
João Miguel Barros assumiu que o Saratoga, por muito confiável e bem cuidado que estivesse, era pequeno e forçava-o a ter de confiar num único motor, à frente, a roncar, “sem delicadezas nem voz meiga”. “O meu amigo levou-me algumas vezes ao aeródromo. Nunca lhe disse, mas nem sempre me senti muito confortável. ‘Os aviões, sem motores, também planam’, ouvia como consolação. O Saratoga nunca me deixou ficar mal, dizia também. ‘Não será desta!’. Na verdade, não foi’, contou o fotógrafo
E agradece ao amigo a oportunidade de poder ter voado no pequeno avião e de ter captado as imagens que, agora, fazem parte da mais recente edição da Zine Photo. A penúltima. “Com o meu amigo ficou uma vida, de gratidão. Comigo ficaram estas e mais umas quantas imagens, que mostram que bocadinhos de tempo servem para contar uma pequena história, sem tempo.”
Depois deste número 11 ainda será publicado um último, no final do ano, fechando-se um ciclo na carreira do fotógrafo. “É o penúltimo capítulo desta aventura editorial inspirada pela OCHRE SPACE. No final do ano será publicado o número 12 e fecha-se o ciclo editorial da Zine Photo para dar lugar às actividades da OCHRE SPACE e outros projectos artísticos, curatoriais e editoriais”, revelou João Miguel Barros.