Jorge Costa Oliveira, fundador e director da JCO Consultancy, Vitaly Umansky, director e analista sénior da AB Bernstein, e Alidad Tash, director da 2NT8, foram convidados pela Câmara do Comércio França-Macau (FMCC) para comentar o concurso público para a licença de jogo que está em curso. Os três especialistas de jogo consideram irrealista a expectativa das autoridades para os novos titulares das próximas licenças do jogo.
Numa videoconferência organizada pela Câmara do Comércio França-Macau (FMCC) e pela Macau Business realizada ontem intitulada “Macau Gaming at Crossroads: The Public Tender and Beyond”, os três analistas convidados consideraram que os pedidos que o Governo fez às novas concessionárias “não fazem sentido”.
O concurso público de 48 dias para atribuição de licenças de jogo acaba na próxima quarta-feira. As autoridades exigem que as novas concessionárias apostem nos elementos não-jogo e na captação de jogadores estrangeiros, no sentido de favorecer o desenvolvimento diversificado da cidade. Jorge Costa Oliveira, fundador e director da JCO Consultancy, diz que “não faz sentido” o Governo transferir a sua responsabilidade para as concessionárias.
Recorde-se que as empresas titulares das próximas licenças do jogo em Macau devem dedicar-se a 11 projectos, incluindo aumentar o turismo internacional, promover a arte e a cultura, receber grandes eventos desportivos ou desenvolver o turismo de saúde e marítimo.
“Operadoras de casinos operam casinos e pagam uma grande quantidade de impostos. Com este nível elevado de fiscalização, deveria caber a responsabilidade do desenvolvimento de Macau às autoridades. Convém ser o Governo a definir as estratégias e políticas para lidar com as infraestruturas públicas”, refere o especialista no sector de jogo, indicando que “o Governo não quer fazer o seu trabalho”. “O desenvolvimento da cidade depende das propostas feitas pelas operadoras de casinos em domínios que têm pouca correlação”, prosseguiu.
Vitaly Umansky, director e analista sénior da AB Bernstein, lembra que, nas últimas duas décadas, os elementos não-jogo que foram desenvolvidos pelas operadoras de casinos deveram-se à intenção de maximização dos lucros num monopólio de jogo e atracção de clientes de alto valor para a cidade.
Em resposta ao facto de o foco do Governo no actual processo de concessão de licença de jogo ter sido expandir a esfera de elementos não-jogo com uma definição amplificada, Umansky é peremptório: “É irrealista, não vai acontecer. As operadoras de casinos não vão construir todas estas coisas, e muitas destas coisas não fazem nenhum sentido”.
O analista norte-americano remete o exemplo de Las Vagas no que toca às comodidades não relacionadas ao jogo. “Não podemos só ver como [os casinos em Las Vagas] têm tantas comodidades não-jogo, mas como a elas sugiram”, refere Umansky, acrescentando que “[as comodidades não-jogo] surgiram através de uma parceria entre o Governo e vários empreendedores que compreenderam a mudança que está a ocorrer e decidiram construir eficazmente ao longo do tempo não só um destino de jogo, mas também um destino que serve para turismo de congressos, conferências e eventos”.
O especialista no sector de jogo considera ainda que falta muito para o território atingir este modelo devido à incompetência do Governo e insuficiência de instalações, muito menos se forem feitas apenas pelas seis concessionárias. “A noção de que de alguma forma Macau se vai transformar num destino internacional de jogo é irrealista a curto ou médio prazo, talvez também a longo prazo, a menos que as infraestruturas e a economia de Macau sejam completamente transformadas, o que não será um processo de dois ou três anos”, disse Umansky.
POUCO AMIGÁVEL À MOBILIDADE DAS PESSOAS
Para o director da 2NT8, Alidad Tash, a política antipática de vistos que se associa à hostilidade das autoridades chinesas contra as actividades de jogo tem criado uma grande barreira para as operadoras de casinos se dedicarem ao sector MICE (reuniões, incentivos, conferências e exposições).
O responsável da empresa de consultoria especializada em jogo e hotelaria destaca ainda que é importante as autoridades abrirem a porta para a entrada de estrangeiros em vez de continuar a expulsá-los. “Tudo é ridículo. Não parece ser possível pedir aos cozinheiros que preparem os pratos sem lhes dar os ingredientes”.
Os dois analistas norte-americanos apontam que a falta de recursos humanos é o maior constrangimento de Macau. A cidade tem tido dificuldade de garantir quadros técnico-profissionais com experiência em diversas áreas e contratar trabalhadores de nível baixo com custo razoável de outra jurisdição. Tash confessa que pode ser difícil para os casinos do território captarem a atenção de apostadores estrangeiros com croupiers exclusivamente residentes de Macau que não têm escolaridade e não falam outra língua para além do chinês.
PONTO FINAL