A embaixadora dos Estados Unidos da América (EUA) nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, afirmou ontem, na Praia, que a China não deve insistir na “provocação” a Taiwan e que a posição norte-americana sobre o diferendo não mudou.
“Não vamos deixar-nos provocar por nenhuma provocação que eles [China] façam”, avisou a diplomata, questionada pela agência Lusa durante a conferência de imprensa na Praia, escala da visita a três países africanos que a levou ontem a reunir-se com o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva.
A diplomata acrescentou que até agora a tensão crescente no mar do sul da China “não foi levada ao Conselho de Segurança”, e aconselhou as autoridades chinesas – com recurso à expressão em inglês “sleeping dogs lie” – a não insistir num assunto incómodo (Taiwan) que está adormecido. “E que não continue pressionando por algum tipo de ação e a ameaçar Taiwan”, afirmou.
“A ‘speaker’ [líder do congresso norte-americano] Pelosi fez uma viagem a Taiwan, ela é membro do nosso Congresso. Os membros do Congresso podem decidir se querem viajar. Nada disso mudou a nossa política sobre a ‘política de uma China’, em Taiwan. Não tivemos nenhuma mudança de política”, insistiu Linda Thomas-Greenfield.
Sublinhando que já outros responsáveis e membros do Congresso norte-americano visitaram Taiwan no passado, a embaixadora afirmou que a China está a usar a visita de Nancy Pelosi como uma “desculpa”. “Achamos que a China está usando isso como uma desculpa para ser mais agressiva”, apontou.
A China, que considerou a recente visita a Taiwan da líder do Congresso dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, como uma “farsa” e uma “deplorável traição”, reivindica a soberania sobre a ilha e considera-a uma província separatista desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para o local, em 1949, após perderem a guerra civil contra os comunistas.
Taiwan voltou ontem a denunciar o exército chinês por simulações de ataques à ilha. “Vários grupos” de aviões, navios e drones chineses foram detectados, ontem de manhã, no Estreito de Taiwan, afirmou o Ministério da Defesa de Taiwan, em comunicado.
As forças chinesas continuam “a realizar exercícios conjuntos por mar e ar, simulando ataques contra a ilha de Taiwan e contra os nossos navios no mar”, enquanto grupos de aviões “infestam” outras ilhas controladas por Taipé, refere o comunicado. Pouco depois, a agência de notícias oficial chinesa Xinhua informou que os exercícios visavam “testar as capacidades de fogo conjunto para ataques terrestres e ataques aéreos de longo alcance”.
Tal como tem acontecido nos últimos dias, as forças de Taiwan enviaram aviões e navios para “vigiar de perto a situação do inimigo”.
Os movimentos do Exército Popular de Libertação (o exército chinês) fazem parte dos exercícios militares que a China está a realizar desde quinta-feira.
Segundo o jornal de Hong Kong South China Morning Post, que cita um representante daquele aeroporto, desde quinta-feira passada mais de 900 voos internacionais tiveram que desviar as suas rotas para as Filipinas ou o Japão para não sobrevoar as zonas das manobras militares, e mais de 200 foram cancelados.
As manobras incluíram disparos reais e lançamento de mísseis de longo alcance e foram realizadas em seis zonas ao redor da ilha, uma das quais fica a cerca de 20 quilómetros da costa de Kaohsiung, a principal cidade do sul de Taiwan.
Embora a China tenha realizado outros exercícios no Estreito de Taiwan nos últimos anos, os exercícios desta semana são diferentes porque “cobrem uma área maior, envolvem mais elementos militares e espera-se que sejam altamente eficazes”, indicaram peritos de defesa chineses citados pelos meios de comunicação locais.
Taiwan descreveu a presença militar da China nas áreas como um “bloqueio”, e a Presidente de Taiwan classificou como “irresponsável” a “ameaça militar deliberadamente elevada” da China. Lusa