A crise do coronavírus que teve início a partir de 2020 constitui um grande desafio para Macau, fazendo com que a economia do território tenha sido duramente atingida pela recessão. A nova ronda de epidemia surgida a 18 de Junho fez com que a cidade praticamente entrasse num confinamento com a suspensão de quase todas as actividades comerciais e industriais a partir no início desta semana, complicando ainda mais a situação. Ao PONTO FINAL, o director-adjunto do Departamento de Finanças e Economia Empresarial da Universidade de Macau, Henry Lei, considera que a crise de saúde pública tem causado“enorme impacto” em diferentes vertentes da sociedade e na economia de Macau, acreditando que o processo de recuperação pode demorar algum tempo.
A partir da passada segunda-feira, Macau entrou num estado “relativamente estático” de sete dias, com a suspensãototal de todas as actividades comerciais e industriais não essenciais, incluindo a indústria do jogo, que hoje ainda é oprincipal pilar da economia do território.
Tendo observado que as receitas brutas do jogo de fortuna ou azar em casino diminuíram durante meses para o mínimo histórico de 2,47 mil milhões de patacas em Junho, o director-adjunto do Departamento de Finanças e Economia Empresarial da Universidade de Macau, Henry Lei, considera que a tendência decrescente das receitas de jogo deve-se à reestruturação do sector do jogo, à restrição de entrada paravisitantes chineses e internacionais e aos surtos surgidos em Xangai e noutras regiões da China.
“Não há dúvida nenhuma que o desafio mais recente para o território deve ser o surto desde 18 de Junho, que pode ter um enorme impacto nas receitas brutas do jogo em Julho e mesmo em Agosto, dependendo do desenvolvimento da epidemiologia”, admitiu o especialista ao PONTO FINAL.
Para Henry Lei, não é uma surpresa constatar que as receitas brutas de jogo irão cair para próximo de zero em Julho e ficar num nível baixo em Agosto. O economista considera que será difícil fazer qualquer previsão precisa em torno das receitas de jogo de 2022, salientando que “a situação poderá ser ainda pior do que no ano de 2020”, com 60,44 mil milhões de patacas. É nestes momentos que se espera que as operadoras de casinos enfrentem prejuízos contínuos em 2022, prevê o professor auxiliar da Universidade de Macau.
PMES EM DESESPERO
A maioria das actividades comerciais e industriais foram obrigadas a uma suspensão de uma semana a partir de 11 de Julho, enquanto muitos estabelecimentos empresariais afectados são Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Para o académico, as medidas antiepidémicas rígidas impostas pelas autoridades do território podem representar “pânico para a estagnação da economia de Macau”.
Na observação de Henry Lei, o número de lojas vazias que se encontram no centro da cidade e na zona turística tem sido crescente nos últimos meses. “Espera-se que o número de PMEs em falência irá aumentar, apesar de os dados estatísticos divulgados pelas autoridades poderem não ser capazes de reflectir efectivamente a situação”, relevou o economista.
Acrescentou ainda que algumas PMEs têm sofrido perdas desde 2020 e quase esgotaram todo o seu capital de funcionamento devido ao período prolongado de crise de saúde pública. “É de notar que muitas PMEs já perderam a esperança, sobretudo num momento em que não surgem quaisquer sinais sobre quando será o fim”, ressalvou o académico.
DESEMPREGO PODE PERMANECER ELEVADO
Em consonância com a falência das PMEs e a suspensão ou redução das actividades exercidas, a taxa de desemprego, em particular o problema do desemprego dos residentes locais, tende a deteriorar-se, “sem solução fácil no mercado a curto prazo”, defende o economista, referindo que a economia de Macau está a sofrer ajustamentos estruturais no sector do jogo, fraca procura externa devido à emergência global de saúde pública causada pela Covid-19 e com a crise da procura interna suscitada pelo recente surto na cidade.
O académico observou que estes factores provocaram o desemprego estrutural e cíclico no território. “O emprego estrutural pode ser um problema extenso que se prolonga por um par de anos até que a transição económica esteja concluída”, explicou o economista. “Entretanto, o desemprego do ciclo em Macau só pode ser resolvido por uma verdadeira recuperação no sector do turismo, que só poderia chegar após o fim da pandemia”, prosseguiu.
Henry Lei acredita que, como resultado, o mercado de trabalho local vai enfrentar uma pressão contínua com apenas um pequeno número de ofertas de emprego disponíveis, especulando que a taxa de desemprego dos residentes locais pode ficar a um nível relativamente elevado ao longo de váriostrimestres consecutivos.
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO ÁRDUO E PROLONGADO
Questionado sobre a perspectiva para a recuperação económica em Macau, o académico prevê que uma plena recuperação total só poderá ocorrer após a epidemia chegar ao fim, dizendo acreditar que, nos próximos meses ou até ao ano de 2023, o território poderá estar mergulhado numa situaçãocomplicada com uma recessão constante.
O professor considera que a situação não vai melhorar durante algum tempo a menos que Pequim aperfeiçoe e flexibilize as medidas antiepidémicas para permitir aos visitantes do interior da China viajarem para Macau, ou algumas novas indústrias que promovam a diversificação adequada da economia de Macau, como a medicina tradicional chinesa ou a indústria financeira moderna, que tenhamevidenciado progressos significativos para contribuir para a produção e criação de emprego.
O economista recordou ainda que as autoridades lançaram novas medidas de apoio financeiro ao combate à epidemia no valor de 10 mil milhões patacas. Henry Lei acredita que a iniciativa pode ajudar o território a evitar a entrada numa recessão profunda. “No entanto, sem uma verdadeira ‘boa notícia’, espera-se que o processo de recuperação seja laborioso e moroso”, resumiu o economista.
PONTO FINAL