Ontem, o tempo da democracia ultrapassou, em um dia, a duração da ditadura que teve 17.499 dias, resultante do golpe de 28 de Maio de 1926. A revolução de 25 de Abril de 1974, que pôs fim ao regime ditatorial, marca o início da contagem do tempo do período democrático, ou seja, 17.500 dias.
Mais dias em democracia do que em ditadura. Portugal comemorou ontem 17.500 dias em regime democrático contra os 17.499 em que viveu sob o jugo do Estado Novo. “Hoje [ontem] é um dia histórico. Hoje a liberdade ultrapassa os 17.499 dias da ditadura: 17.500 dias em Liberdade”, escreveu o primeiro-ministro António Costa numa mensagem que divulgou na sua conta na rede social Twitter.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 começaram na quarta-feira, a dois anos da data oficial, e decorreram no Pátio da Galé, em Lisboa. Na cerimónia, António Costa afirmou que “pensar o futuro da democracia”, tornando-a mais viva, exigente, moderna e participada, “é a responsabilidade maior destas comemorações e é a melhor mensagem que delas pode resultar”.
António Costa defendeu ainda que “a liberdade e a democracia são sempre obras inacabadas e nunca estão imunes a ameaças. É sempre possível democratizar mais a liberdade e libertar mais a democracia e é necessário agir contra o populismo, as desigualdades, a corrupção, o medo e o ódio que sempre as ameaçam.”
Quando passam “17.500 dias sobre o dia 25 de Abril de 1974”, o marco em que Portugal “vive há mais dias em liberdade do que aqueles que viveu em ditadura”, Costa fez questão de prestar uma homenagem “sempre devida” aos Capitães de Abril, “heróis da Revolução e que serão sempre merecedores da nossa gratidão renovada”.
“Sem perder obviamente a memória da resistência que queremos honrar, a memória da libertação que vamos festejar, a memória do muito que construímos e devemos celebrar, estas comemorações terão de ser sobretudo uma passagem de testemunho para as novas gerações que continuarão e renovarão a nossa democracia na aspiração a um futuro que realize o que ainda falta realizar”, antecipou o socialista que também apresentou, esta quarta-feira, o elenco governativo para os próximos anos de governação.
Durante a sessão solene onde foram condecorados militares da “Revolução dos Cravos”, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, referiu que “está nas nossas mãos fazer com que estes 50 anos do 25 de Abril sejam sementes do futuro e não apenas revivalismo do passado”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na intervenção na abertura solene das comemorações.
“Que seja o futuro o nosso desafio fundamental, por aí passa o sucesso ou o fracasso da comemoração, por aí passa a ser uma oportunidade ganha ou uma oportunidade perdida”, alertou ainda o Presidente de Portugal.
Ontem, no Dia Mundial do Estudante, evocou-se a crise académica de 1962. O socialista António Correia de Campos sublinhou o papel deste acontecimento, o qual mostrou o quanto os jovens portugueses estavam distantes do regime. Seis décadas passadas, o ex-ministro da Saúde considera que o “luto académico”, assim designada a greve dos estudantes, que incluiu uma greve de fome, foi “um alfobre” de “dirigentes políticos depois do 25 de Abril – um Presidente da República, ministros, líderes partidários de todos os partidos do espectro – e, por outro lado, foi o detonador de crises que se repetiram ano após ano”.
Recorde-se que milhares de estudantes portugueses desafiaram, há 60 anos, o regime autoritário de Salazar, sob o pretexto de contestar a proibição das comemorações do Dia do Estudante, embora na sua agenda estivesse o fim da ditadura e a liberdade.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril vão prolongar-se até Dezembro de 2026, quando se assinalar meio século das primeiras eleições autárquicas realizadas em Portugal.