Sem qualquer sustentação científica, Mo Io Fong pede às autoridades para que reforcem as medidas de quarentena e desinfecção para mercadorias exportadas. Ao mesmo tempo, tal como pedido pelas autoridades sanitárias locais, insta a população a reduzir a compra de mercadorias, considerando haver necessidade de reforçar a regulamentação da entrada de correio, encomendas e mercadorias.
Numa declaração enviada às redacções, o deputado da Assembleia Legislativa (AL) Mo Io Fong mostra-se preocupado com as recentes notícias vindas na China continental que dão como possível o contágio por SARS-CoV-2 através de encomendas internacionais.
Sem qualquer tipo de sustentação científica, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus revelou, esta semana, a mesma preocupação através de um comunicado oficial. “O Centro de Coordenação de Contingência alerta os cidadãos a reduzir e manusear com cuidado, os produtos adquiridos por correio”, pode ler-se numa nota de imprensa tornada pública no dia 17 de Janeiro.
As preocupações surgem depois de o Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Pequim ter recomendado que os moradores da capital chinesa deixem de receber correspondência e encomendas de produtos comprados no exterior depois de amostras da variante Ómicron terem sido detectadas numa carta com remetente do Canadá, que terá passado ainda pelos Estados Unidos da América e por Hong Kong antes de chegar ao destino final.
Mo Io Fong acredita piamente que o Governo liderado por Ho Iat Seng “deve continuar a reforçar a quarentena e a desinfecção de bens e mercadorias recebidas, bem como a emitir directrizes ou regulamentos sobre o manuseamento de mercadorias por lojas online, de modo a eliminar possíveis lacunas na prevenção da doença”.
O deputado do Bom Lar, eleito por sufrágio directo, recorda o Executivo que já tinha mostrado preocupações sobre o assunto anteriormente, tendo inclusive interpelado o Governo nesse sentido. Mo Io Fong também pretende que a prevenção se faça nas lojas de recolha de encomendas ao estilo Taobao que agora proliferam pela cidade.
Na altura, refere o parlamentar, as autoridades explicaram que a limpeza e desinfecção de mercadorias é feita segundo recomendações nacionais relevantes, havendo uma preocupação redobrada nos congelados. Ao mesmo tempo, referiu o Governo na altura, “para produtos fora da cadeia de frio, especialmente os de baixa temperatura e alta frequência de contacto, tem sido dada ênfase à limpeza e desinfecção de contentores e veículos em países/regiões de alto risco, e à desinfecção de jornais, revistas e cargas de desembarque relacionadas enviadas de Hong Kong para Macau”.
O deputado, ainda assim, considerando o “bom trabalho” das autoridades, acredita que há sempre lugar à melhoria, isto porque, defende, “pode haver uma lacuna no controlo do correio, encomendas e mercadorias que chegam a Macau através do continente e do estrangeiro”.
Tal como o Governo, o deputado, no mesmo comunicado de imprensa, insta o público a reduzir a compra de mercadorias enviadas de locais com elevada incidência de Covid-19, e a usar máscaras e luvas descartáveis ao manusear correio e mercadorias, de modo a evitar levar a embalagem exterior para casa, e a reforçar a prevenção”.
Sem sustentação científica
Recorde-se que as autoridades de saúde chinesas têm reiterado, de tempos a tempos, a possibilidade de que qualquer indivíduo pode ser infectado pelo novo coronavírus através do contacto com objectos contaminados. Aconteceu com carnes congeladas oriundas do Brasil e com salmão adquirido à Noruega, entre outras situações.
Contudo, a teoria aventada pela China tem vindo a ser rebatida ao longo dos últimos dois anos, inclusive pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS), que, por diversas vezes, já afirmou que os coronavírus “precisam de um animal vivo ou de um hospedeiro humano para sobreviver”. A OMS lembrou que os micro-organismos “não podem multiplicar-se nas superfícies de embalagens de alimentos”, por exemplo.
A maioria dos cientistas e médicos consideram “altamente improvável” esse cenário. Embora considerando que amostras colhidas possam gerar resultados positivos para o SARS-CoV-2 em testes, isso, de facto, significa que o exame detectou vestígios do novo coronavírus, mas não necessariamente que esses vestígios tenham carga viral suficiente para infectar uma pessoa.
David Heymann, epidemiologia britânico, defendeu que não está claro como seria possível o coronavírus sobreviver no correio, uma vez que se espalha por meio de gotículas cercadas por humidade e deixa de ser infeccioso quando seco. De igual modo, Scott Gottlieb, da Pfizer, também acha a ideia pouco plausível. Anna Banerji, professora de pediatria e doenças infecciosas, também assume que a ideia defendida pelas autoridades chinesas “não tem qualquer base científica”. “A variante Ómicron nunca sobreviveria numa correspondência ou encomenda que cruzou o mundo.”
PONTO FINAL