Nestes 20 anos de RAEM, Edmund Ho desempenhou duas tarefas completamente diferentes, embora interdependentes: foi o primeiro Chefe do Executivo e o primeiro ex-Chefe do Executivo. À luz dos dados hoje existentes, desempenhou as duas com nota positiva. Dirão os leitores: ser ex-chefe é muito mais fácil, pelo que faz pouco sentido comparar. Talvez sim, mas é preciso ter em consideração que, antes de Edmund, não havia uma referência, pela positiva ou não.
É verdade que, na região vizinha, Tung Chee-hwa já tinha saído de funções. Mas as circunstâncias foram duplamente diferentes: primeiro, porque foi obrigado a demitir-se, depois de uma manifestação de meio milhão nas ruas de Hong Kong, com a regulamentação do Artigo 23 como cenário; depois porque, ao sair, Tung Chee-hwa não se limitou a ocupar o lugar de vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), mas fundou a China-United States Exchange Foundation, em 2008, para melhorar a opinião dos norte-americanos sobre a China, e, seis anos depois, uma outra fundação, Our Hong Kong Foundation, onde agrega vários empresários de topo. Saiu, mas continuou muito activo.

Pelo seu lado, Edmund, nestes últimos 10 anos, conseguiu evitar qualquer polémica ou que qualquer das suas (raras) declarações fosse entendida como uma crítica ou uma indirecta ao Governo do seu amigo e delfim Chui Sai On. Pura e simplesmente, durante o tempo em que foi ex, Edmund soube criar um paradigma, nunca falando directamente de Macau.
Outro exemplo: ao aceitar ser o Chefe do Governo foi obrigado a terminar a sua carreira empresarial. Segundo a Lei Básica da RAEM, o Chefe do Executivo tem que renunciar a todas as suas actividades lucrativas privadas, cortando relações com o mundo dos negócios. Poderia regressar às empresas após 2009, quando ainda tinha apenas 54 anos, mas – que se saiba – manteve-se até hoje afastado.
Quando chegarmos a 2049, haverá pelo menos quatro antigos líderes do Governo da Região. Para a opinião pública, para os comentadores, para todos em geral, Edmund Ho será a referência. Mesmo que seja para o contrariar, o que não é muito provável.
Desaparecido?
Depois de abandonar as funções executivas, Edmund foi escolhido como um dos 24 vice-presidentes da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), o principal órgão de consulta do Partido Comunista Chinês e do Governo da China. Desde então, já foi reeleito para o mesmo órgão (são mandatos de cinco anos).
E é basicamente nesta qualidade de vice-presidente da CCPPC que, nestes 10 anos, Edmund Ho tem aparecido em público. Como quando marcou presença numa reunião, em Zhuhai, da Comissão de Conselho de Desenvolvimento da Nova Zona de Hengqin, afirmando que a zona nova da Ilha da Montanha vai entrar “numa nova era” e deixando algumas sugestões.
Foi também como vice-presidente da CCPPC que viajou até Timor, Angola ou Portugal, promovendo Macau como espaço de intercâmbio com os países de língua oficial portuguesa – funções que se enquadram na posição institucional que desempenha.
Se alguns garantem que Edmund Ho, nestes 10 anos, nunca deixou de estar presente na vida política de Macau, fê-lo sempre na sombra e provavelmente olhos nos olhos com Chui Sai On.